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terça-feira, 2 de agosto de 2016

CAPÍTULO 68

CENA 1: Mateus estranha a ameaça de “Chefe”.
-Sinceramente, não consigo entender você, chefe. Acho que você está um pouco fora da realidade. Faz meses que a Laura parou de ser uma ameaça a você e no fim das contas você sabe disso. Ela está vivendo a vida dela.
-O problema é justamente esse, seu animal. Ela escolheu tocar a vida dela justamente com quem? Com o Haroldo. Você tem noção do risco que eu corro com essa relação deles?
-Não viaja, cara. Eles estão só ficando.
-Mas eu mandei meus homens ficarem por perto e a opinião deles é unânime: eles estão muito envolvidos.
-E daí? Até onde eu sei, nenhum dos seus homens é especialista em relações amorosas. Qual é o problema se ela realmente estiver envolvida com o Haroldo e se eles realmente estiverem se gostando?
-O problema, seu paquiderme, é que isso pode significar que o cagão pode terminar abrindo a boca demais. E eu estaria arruinado diante disso.
-Então por que você não liga pra ele, de novo? Por que não dá um daqueles seus sustos, mandando seus homens ficarem visíveis perto dele? Se o seu problema é com ele, não tem sentido você ameaçar a Laura e me avisar disso.
-Você se esquece que só você e o Bruno sabem quem eu realmente sou? Ninguém mais sabe, Mateus. Eu posso ligar uma ou duas vezes pro Haroldo e não dar em nada, mas vai que o pai dele, que é colado com investigadores, resolve ir atrás? Eu estaria liquidado! E centenas de homens ficariam sem emprego aqui no Rio e pelo Brasil.
-E daí? Achei que você fosse mais autoconfiante, já que se cerca de tantos cuidados. Toda vez que está a trabalho usa aquele aparelho para distorcer as frequências das cordas vocais, pra ninguém reconhecer sua voz. Aliás, usa isso até sem necessidade, pois quando você me chamava no seu esconderijo, estava usando o aparelho.
-Nunca se sabe onde tem câmeras escondidas ou microfones, grampos. Se eu me cerco desses cuidados é porque minha identidade não pode ser descoberta. Você sabe quanta gente depende desse dinheiro. Até pouco tempo atrás, você também dependia e se não fosse pela minha influência, não teria chegado onde chegou.
-Você está delirando, chefe. Eu consegui meu contrato na emissora por mérito próprio.
-Acho que você está esquecendo das coisas que eu fiz pra tornar isso possível. Tá esquecendo que tem homem meu lá dentro? Eles também estão de olho em você...
-Chega de enrolação, chefe! Você fala, fala, fala, dá voltas e não chega a lugar nenhum. Poderia ser mais objetivo? Estou cansado e preciso dormir.
-Dê um jeito de sossegar a bacurinha da sua ex namorada.
-Olha aqui, não venha com misoginia pra cima dela, tá me ouvindo?
-Viado, se situe! Ela representa um risco a mim e à organização.
-Facção, você quer dizer.
-Que seja. Não vou discutir terminologia com você agora. Mantenha ela quieta. E você, me prometa absoluto silêncio sobre todo o seu passado trabalhando comigo. Senão, você já sabe... eu não sujo minhas mãos com nada. Mas o que não me falta nessa vida é gente que faça o serviço sujo por mim. E eu não costumo ser piedoso com quem me trai ou me atravessa o caminho. Esteja avisado: ou fica de bico calado, ou vai ser o fim da linha pra vocês três, inclusive pro Haroldo.
-Pode deixar. Sou qualquer coisa nessa vida, menos suicida.
Mateus desliga, preocupado. CORTA A CENA.

CENA 2: No dia seguinte, no intervalo dos ensaios no teatro, Haroldo espera Laura se arrumar e vai lanchar com ela.
-Você tava deslumbrante hoje, Laura...
-Que isso, Haroldo... a gente fica tudo estrupiado de tanto que sua em cima daquele palco e você ainda diz isso?
-Você não faz ideia do quão maravilhosa é. É uma força da natureza.
-E você é muito mais encantador e gentil do que pensa ser. Sabe, Haroldo... no fim das contas eu tenho muita sorte de ter alguém como você por perto.
-Eu que tenho essa sorte. Sabe, Laura... eu sei que faz pouco tempo que a gente fica, que o lance é sem compromisso e tudo mais, mas... eu não quero mais mascarar nada, nem mentir pra mim mesmo: eu estou me apaixonando por você.
-Sabe, Haroldo... você parece que lê meus pensamentos. Faz alguns dias que eu tava pensando em te dizer coisa parecida. Eu não sei como que tudo isso começou a acontecer dentro de mim, mas no fundo eu estou cada vez mais apaixonada por você. Ainda assim, acho que a gente precisa de um pouco de cautela, pra ver até onde tudo isso vai nos levar...
-Eu acho prudente, Laura... tenho medo de acabar te causando algum mal.
-Não acredito que você possa me causar nenhum mal, Haroldo. Entendo o seu medo, mas eu estou disposta a enfrentar esses medos com você.
-Isso é um pedido de namoro?
-Pode ser, se você quiser... você quer?
-Eu quero. Mas temo que isso te coloque em risco.
-Então a gente faz assim: a gente vê onde tudo isso vai dar. Para mim, nós estamos namorando... mas sem aquelas encucações de cobranças, certo? Ainda somos livres...
-Você sempre encontra uma solução pra tudo, Laura... você não existe!
-Claro que existo, não tá vendo? Tanto existo que tou morta de vontade de beijar essa sua boca...
Os dois selam o namoro. CORTA A CENA.

CENA 3: Após o almoço, Marcelo percebe que Riva está com uma expressão pensativa.
-Mãe... desde ontem eu tou observando que você tá com essa cara de quem parece ter visto uma assombração...
Vicente concorda.
-Teu filho tem razão. Você tá com essa cara estranha desde ontem e tá quase sem falar direito...
-Sabe, gente... eu ando intrigada com algumas coisas. Mas ao mesmo tempo morro de medo de estar sendo injusta, vocês entendem? - fala Riva.
-Prima... a gente só vai entender se você disser. Dá pra ver que você anda encafifada... - observa Rafael.
-Tá certo, queridos... eu vou falar do que tá me afligindo. Eu contei pra vocês que a Suzanne teve aqui ontem, né? Foi rápida, deixou os convites pra mim e pra Marion de um evento que não tenho a mínima vontade de ir...
-Sim, Riva... até aí você contou pra gente... - fala Vicente.
-Acontece que ontem a Suzanne tava usando de novo aquela gargantilha. - fala Riva.
-Que gargantilha, mãe? Não tou sabendo dessa história... - estranha Marcelo.
-Então, meu filho... faz muitos meses que eu a vi com essa gargantilha... estava grávida do Lúcio, ainda. Só que essa gargantilha tem uma característica que me chama muito a atenção: ela é idêntica à que a sua falecida avó me deu no dia que morreu, quando eu era só uma garotinha... entende?
-Sim, mas o que isso tem demais? Existem joias e bijuterias parecidas pelo mundo... - observa Rafael.
-Sim, Rafael... de fato tem, mas o que me intriga é que Suzanne insiste que se trata de uma bijuteria, sendo que eu consigo ver de longe e tenho quase certeza que aquela gargantilha é de ouro... exatamente como a que minha mãe me deu antes de morrer. O que me intriga nisso é que eu tive essa gargantilha roubada pelo seu pai quando ele me abandonou grávida, levando a minha pouca herança. Se essa gargantilha parou nas mãos da Suzanne, isso é no mínimo curioso... - fala Riva.
-Não acho estranho, mãe... o Márcio, digo... o meu pai já explicou que cometeu delitos quando jovem. E que se arrepende disso. Não me surpreenderia se essa gargantilha tivesse parado numa loja de bijuterias. Mesmo sendo uma joia... - fala Marcelo.
-Você pode ter razão, filho... mas você não acha estranho que mesmo assim uma loja de bijuteria aceite uma mercadoria sem mesmo mandar examinar se é bijuteria ou joia? Eles poderiam ter ganho mais dinheiro! - fala Riva.
-Eu acho que não vale a pena se estressar por isso. De repente é só uma bijuteria bem feita, que parece joia... - fala Rafael.
Os quatro seguem a conversa. CORTA A CENA.

CENA 4: No consultório de Valentim, na companhia dele e de Mara, Raquel volta a falar sobre Suzanne.
-Gente, eu continuo achando que vocês deveriam prestar mais atenção nos passos da minha filha. Por mais que ela não tenha nenhuma passagem comprovada pela polícia, talvez a resposta para nossas perguntas esteja nas coisas que ela tem feito ultimamente.
-Querida, a gente entende que a Suzanne é uma psicopata. Mas não podemos prender uma pessoa exclusivamente pelo fato dela ser psicopata, sem golpes ou crimes comprovados, sem testemunhas, sem nada. O fato de ela possivelmente ter usado identidades falsas só complica nossas investigações, porque ela pode ter usado disfarces, entende? - explica Mara.
-Eu entendo. Mas nada me tira da cabeça que ela foi a mandante daquele sequestro do Lúcio mês passado.
-Raquel... o inquérito está em andamento. Estamos colhendo as informações que podemos através da delegada. Nosso foco agora é em outra coisa: precisamos desbaratar uma facção e chegar ao chefe dela, lembra? - salienta Valentim.
Os três seguem com as pesquisas de informações e Raquel fica contrariada. CORTA A CENA.

CENA 5: Cláudio falta ao ensaio para cuidar de Guilherme.
-Pelo menos você parece estar bom da crise. Pensei que ia ter que chamar seu psiquiatra aqui...
-Eu sinto muito por ter te feito perder um dia de ensaio...
-Para com isso, Guilherme. O Procópio entende e sabe que posso acabar faltando pra cuidar de você. Depois, eu tou conseguindo uma graninha indo aos hospitais animas as crianças com câncer.
-Sabe o que eu andei pensando, amor?
-O que?
-Na nossa data de casamento... será que vai ser logo?
-Querido, eu já te expliquei que eu preciso pelo menos encontrar um momento oportuno, que não vá se acavalar com minha faculdade e os ensaios na companhia de teatro...
-Eu sei, Cláudio... mas a gente pode passar um tempo fora que isso não vai dar problema pra você. Por que a gente não casa daqui um mês? Já tenho até os contatos da juíza...
Cláudio explode.
-Qual foi a parte de “ninguém decide nada sozinho aqui” que você não entendeu? Me respeite, se respeite, nos respeite!
-Não precisa gritar, amor...
-Como que não precisa, Guilherme? Você só entende o que quer, do jeito que quer, distorce as coisas e ainda vem fazer essa cara de vítima?
-Mas... amor... você precisa entender que eu sou esquizofrênico. Desculpa.
Cláudio cai em si.
-Eu que peço desculpa, amor... ainda tou me adaptando a tudo isso. A gente vai se casar, confia em mim...
Cláudio abraça Guilherme. CORTA A CENA.

CENA 6: Ao anoitecer, Laura volta para casa, animada.
-Tá toda toda hoje, hein?
-Dá pra ver, Mateus? Tou num quase namoro com o Haroldo. A gente vai jantar fora. Você podia vir com a gente...
-Não tou muito disposto. Na real passei o dia meio triste.
-Por que?
-Ando arrependido das merdas que eu fiz, sabe?
-Pode ser mais específico? Foram tantas as merdas que você fez... ai, desculpa falar assim, você entendeu o que eu quis dizer...
-Eu me sinto arrependido. De verdade.
-Do que, especificamente?
-Pelas vezes que impliquei com o Cláudio, desde garoto. No final das contas eu acho que sempre invejei a força e a coragem dele. Gostaria de ser amigo dele... mas não sei se dá tempo.
-Seu bobo... enquanto há vida, há tempo. A gente não pode consertar as cacas que fez no passado, mas pode aprender com nossos erros. Não pra se culpar por esses erros, mas sim pra assumir as responsabilidades que são nossos e aprender com isso. E não cometer os mesmos erros de antes... até porque somos humanos e tem sempre novos erros pra gente cometer!
-Você não existe, Laura... mas vai lá se arrumar pra ver o Haroldo... não quero te atrasar pro jantar de vocês.
Laura vai se arrumar. CORTA A CENA.

CENA 7: Diogo chora na cozinha de seu apartamento depois de uma discussão com Victor. Logo depois, vai atrás de Victor no quarto.
-Amor, abre a porta! Não faz assim comigo!
Victor abre a porta, com raiva.
-O que você quer, Diogo? Por que não vai pros seus amiguinhos? Vai lá! Vai dançar com eles, vai foder com eles. Afinal de contas eu não estou dando conta, não é mesmo? Vá saciar seus desejos animalescos, vai!
Diogo tenta se explicar e Victor dispara em direção à porta do apartamento.
-Amor, espera!
Diogo tenta correr atrás de Victor, mas ele entra no elevador antes. Diogo desce as escadas correndo para tentar alcançar Victor. Ao descer as escadas, ofegante, aguarda para ver o elevador se abrir. Duas mulheres saem do elevador e Diogo vai até o porteiro.
-Seu Umberto, você viu se o meu namorado passou por aqui?
-Ah, o seu Victor? Ele saiu daqui com muita pressa. Chamou um táxi e entrou nele... não faz nem um minuto, isso. Ele está bem? Parecia fora de si.
-Ele está em crise, seu Umberto. Você sabe... problemas mentais. Você não faz ideia de pra onde ele possa ter ido?
-Nem vaga ideia, seu Diogo... sinto muito. Tentei falar com ele, mas ele passou reto, voando.
-Obrigado.
Diogo deixa o prédio e passa a pedir informações às pessoas na rua. CORTA A CENA.

CENA 8: Após o jantar, Haroldo resolve fazer uma proposta para Laura.
-Quem sabe você não vem comigo hoje? Sabe como é... aos poucos a coisa aqui tá ficando séria... acho que seria uma boa ideia você vir pra minha casa. Afinal de contas, você tem amigos por lá...
-Eu adoraria, Haroldo, mas prefiro ir com mais calma. Depois, eu vim sozinha pra esse restaurante e vou ter de voltar sozinha pra casa.
-Mas eu te dou uma carona...
-Ficou doido? E de onde eu ia tirar dinheiro pra pagar o estacionamento com pernoite aqui? Eles não cobram barato pra deixar uma moto estacionada de um dia pro outro.
-É, mas se você não tivesse sido cabeça dura, eu teria te buscado no meu carro...
-É melhor assim, querido... acredite. Depois, não gosto da ideia de depender de homem nenhum, acho bom você ir se acostumando com isso.
-Mas você topa vir dormir na minha casa qualquer hora dessas?
-Topo. Mas só se você dormir na minha casa antes. Afinal de contas, o Mateus você já conhece.
-Conheço sim e acho gente boa...
-Sabe, Haroldo... eu sei que você não gosta que eu entre nesses assuntos, mas... eu preciso deixar clara uma coisa, até pra que nossa relação dê certo: eu tenho meio que uma alma de investigadora, sabe? E eu sei que tem alguém que mete muito medo em você e no Mateus. E não vou descansar enquanto não descobrir quem é essa pessoa e ver essa criatura atrás das grades. Vocês são pessoas maravilhosas, eu sinto! Não merecem viver a vida à mercê de uma pessoa que tem vocês na mão.
-Eu me preocupo com você, Laura. Você não sabe com que tipo de pessoas você pode estar se metendo.
-Eu não tenho medo, Haroldo. Se esse ou esses caras são tão valentes, por que não mostram a cara? Pra mim quem tá por trás de tudo isso não passa de um covarde... ou uns covardes, tanto faz.
-Ninguém te segura, né?
-Ainda bem que você sabe disso... preciso ir porque tenho certeza que o Mateus esqueceu de chamar a pizza dele. Até mais, querido!
Laura parte em sua moto.
-Se cuida, amor! - grita Haroldo. CORTA A CENA.

CENA 9: Laura está a caminho de sua casa quando para em um posto de conveniências para pegar as pizzas de Mateus. Assim que pega as pizzas, paga por elas e pendura a sacola no guidão de sua moto, partindo novamente. Antes de chegar em seu prédio, o sinal fecha e Laura aguarda o sinal abrir. Nesse momento, dois motoqueiros a fecham e apontam armas pra ela.
-Você vem com a gente se quiser viver. Sem escândalo, sem auê, sem nada. Você está cercada e vai com a gente onde a gente mandar. - fala um dos homens.
Apavorada, Laura fica sem reação.
-Você é muito curiosa, garota. Tá precisando levar uma lição para parar de se intrometer nos negócios dos outros... - fala o outro homem.
FIM DO CAPÍTULO 68.

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