CENA 1: Mateus estranha a
ameaça de “Chefe”.
-Sinceramente, não consigo
entender você, chefe. Acho que você está um pouco fora da
realidade. Faz meses que a Laura parou de ser uma ameaça a você e
no fim das contas você sabe disso. Ela está vivendo a vida dela.
-O problema é justamente
esse, seu animal. Ela escolheu tocar a vida dela justamente com quem?
Com o Haroldo. Você tem noção do risco que eu corro com essa
relação deles?
-Não viaja, cara. Eles estão
só ficando.
-Mas eu mandei meus homens
ficarem por perto e a opinião deles é unânime: eles estão muito
envolvidos.
-E daí? Até onde eu sei,
nenhum dos seus homens é especialista em relações amorosas. Qual é
o problema se ela realmente estiver envolvida com o Haroldo e se eles
realmente estiverem se gostando?
-O problema, seu paquiderme, é
que isso pode significar que o cagão pode terminar abrindo a boca
demais. E eu estaria arruinado diante disso.
-Então por que você não
liga pra ele, de novo? Por que não dá um daqueles seus sustos,
mandando seus homens ficarem visíveis perto dele? Se o seu problema
é com ele, não tem sentido você ameaçar a Laura e me avisar
disso.
-Você se esquece que só você
e o Bruno sabem quem eu realmente sou? Ninguém mais sabe, Mateus. Eu
posso ligar uma ou duas vezes pro Haroldo e não dar em nada, mas vai
que o pai dele, que é colado com investigadores, resolve ir atrás?
Eu estaria liquidado! E centenas de homens ficariam sem emprego aqui
no Rio e pelo Brasil.
-E daí? Achei que você fosse
mais autoconfiante, já que se cerca de tantos cuidados. Toda vez que
está a trabalho usa aquele aparelho para distorcer as frequências
das cordas vocais, pra ninguém reconhecer sua voz. Aliás, usa isso
até sem necessidade, pois quando você me chamava no seu
esconderijo, estava usando o aparelho.
-Nunca se sabe onde tem
câmeras escondidas ou microfones, grampos. Se eu me cerco desses
cuidados é porque minha identidade não pode ser descoberta. Você
sabe quanta gente depende desse dinheiro. Até pouco tempo atrás,
você também dependia e se não fosse pela minha influência, não
teria chegado onde chegou.
-Você está delirando, chefe.
Eu consegui meu contrato na emissora por mérito próprio.
-Acho que você está
esquecendo das coisas que eu fiz pra tornar isso possível. Tá
esquecendo que tem homem meu lá dentro? Eles também estão de olho
em você...
-Chega de enrolação, chefe!
Você fala, fala, fala, dá voltas e não chega a lugar nenhum.
Poderia ser mais objetivo? Estou cansado e preciso dormir.
-Dê um jeito de sossegar a
bacurinha da sua ex namorada.
-Olha aqui, não venha com
misoginia pra cima dela, tá me ouvindo?
-Viado, se situe! Ela
representa um risco a mim e à organização.
-Facção, você quer dizer.
-Que seja. Não vou discutir
terminologia com você agora. Mantenha ela quieta. E você, me
prometa absoluto silêncio sobre todo o seu passado trabalhando
comigo. Senão, você já sabe... eu não sujo minhas mãos com nada.
Mas o que não me falta nessa vida é gente que faça o serviço sujo
por mim. E eu não costumo ser piedoso com quem me trai ou me
atravessa o caminho. Esteja avisado: ou fica de bico calado, ou vai
ser o fim da linha pra vocês três, inclusive pro Haroldo.
-Pode deixar. Sou qualquer
coisa nessa vida, menos suicida.
Mateus desliga, preocupado.
CORTA A CENA.
CENA 2: No dia seguinte, no
intervalo dos ensaios no teatro, Haroldo espera Laura se arrumar e
vai lanchar com ela.
-Você tava deslumbrante hoje,
Laura...
-Que isso, Haroldo... a gente
fica tudo estrupiado de tanto que sua em cima daquele palco e você
ainda diz isso?
-Você não faz ideia do quão
maravilhosa é. É uma força da natureza.
-E você é muito mais
encantador e gentil do que pensa ser. Sabe, Haroldo... no fim das
contas eu tenho muita sorte de ter alguém como você por perto.
-Eu que tenho essa sorte.
Sabe, Laura... eu sei que faz pouco tempo que a gente fica, que o
lance é sem compromisso e tudo mais, mas... eu não quero mais
mascarar nada, nem mentir pra mim mesmo: eu estou me apaixonando por
você.
-Sabe, Haroldo... você parece
que lê meus pensamentos. Faz alguns dias que eu tava pensando em te
dizer coisa parecida. Eu não sei como que tudo isso começou a
acontecer dentro de mim, mas no fundo eu estou cada vez mais
apaixonada por você. Ainda assim, acho que a gente precisa de um
pouco de cautela, pra ver até onde tudo isso vai nos levar...
-Eu acho prudente, Laura...
tenho medo de acabar te causando algum mal.
-Não acredito que você possa
me causar nenhum mal, Haroldo. Entendo o seu medo, mas eu estou
disposta a enfrentar esses medos com você.
-Isso é um pedido de namoro?
-Pode ser, se você quiser...
você quer?
-Eu quero. Mas temo que isso
te coloque em risco.
-Então a gente faz assim: a
gente vê onde tudo isso vai dar. Para mim, nós estamos namorando...
mas sem aquelas encucações de cobranças, certo? Ainda somos
livres...
-Você sempre encontra uma
solução pra tudo, Laura... você não existe!
-Claro que existo, não tá
vendo? Tanto existo que tou morta de vontade de beijar essa sua
boca...
Os dois selam o namoro. CORTA
A CENA.
CENA 3: Após o almoço,
Marcelo percebe que Riva está com uma expressão pensativa.
-Mãe... desde ontem eu tou
observando que você tá com essa cara de quem parece ter visto uma
assombração...
Vicente concorda.
-Teu filho tem razão. Você
tá com essa cara estranha desde ontem e tá quase sem falar
direito...
-Sabe, gente... eu ando
intrigada com algumas coisas. Mas ao mesmo tempo morro de medo de
estar sendo injusta, vocês entendem? - fala Riva.
-Prima... a gente só vai
entender se você disser. Dá pra ver que você anda encafifada... -
observa Rafael.
-Tá certo, queridos... eu vou
falar do que tá me afligindo. Eu contei pra vocês que a Suzanne
teve aqui ontem, né? Foi rápida, deixou os convites pra mim e pra
Marion de um evento que não tenho a mínima vontade de ir...
-Sim, Riva... até aí você
contou pra gente... - fala Vicente.
-Acontece que ontem a Suzanne
tava usando de novo aquela gargantilha. - fala Riva.
-Que gargantilha, mãe? Não
tou sabendo dessa história... - estranha Marcelo.
-Então, meu filho... faz
muitos meses que eu a vi com essa gargantilha... estava grávida do
Lúcio, ainda. Só que essa gargantilha tem uma característica que
me chama muito a atenção: ela é idêntica à que a sua falecida
avó me deu no dia que morreu, quando eu era só uma garotinha...
entende?
-Sim, mas o que isso tem
demais? Existem joias e bijuterias parecidas pelo mundo... - observa
Rafael.
-Sim, Rafael... de fato tem,
mas o que me intriga é que Suzanne insiste que se trata de uma
bijuteria, sendo que eu consigo ver de longe e tenho quase certeza
que aquela gargantilha é de ouro... exatamente como a que minha mãe
me deu antes de morrer. O que me intriga nisso é que eu tive essa
gargantilha roubada pelo seu pai quando ele me abandonou grávida,
levando a minha pouca herança. Se essa gargantilha parou nas mãos
da Suzanne, isso é no mínimo curioso... - fala Riva.
-Não acho estranho, mãe... o
Márcio, digo... o meu pai já explicou que cometeu delitos quando
jovem. E que se arrepende disso. Não me surpreenderia se essa
gargantilha tivesse parado numa loja de bijuterias. Mesmo sendo uma
joia... - fala Marcelo.
-Você pode ter razão,
filho... mas você não acha estranho que mesmo assim uma loja de
bijuteria aceite uma mercadoria sem mesmo mandar examinar se é
bijuteria ou joia? Eles poderiam ter ganho mais dinheiro! - fala
Riva.
-Eu acho que não vale a pena
se estressar por isso. De repente é só uma bijuteria bem feita, que
parece joia... - fala Rafael.
Os quatro seguem a conversa.
CORTA A CENA.
CENA 4: No consultório de
Valentim, na companhia dele e de Mara, Raquel volta a falar sobre
Suzanne.
-Gente, eu continuo achando
que vocês deveriam prestar mais atenção nos passos da minha filha.
Por mais que ela não tenha nenhuma passagem comprovada pela polícia,
talvez a resposta para nossas perguntas esteja nas coisas que ela tem
feito ultimamente.
-Querida, a gente entende que
a Suzanne é uma psicopata. Mas não podemos prender uma pessoa
exclusivamente pelo fato dela ser psicopata, sem golpes ou crimes
comprovados, sem testemunhas, sem nada. O fato de ela possivelmente
ter usado identidades falsas só complica nossas investigações,
porque ela pode ter usado disfarces, entende? - explica Mara.
-Eu entendo. Mas nada me tira
da cabeça que ela foi a mandante daquele sequestro do Lúcio mês
passado.
-Raquel... o inquérito está
em andamento. Estamos colhendo as informações que podemos através
da delegada. Nosso foco agora é em outra coisa: precisamos
desbaratar uma facção e chegar ao chefe dela, lembra? - salienta
Valentim.
Os três seguem com as
pesquisas de informações e Raquel fica contrariada. CORTA A CENA.
CENA 5: Cláudio falta ao
ensaio para cuidar de Guilherme.
-Pelo menos você parece estar
bom da crise. Pensei que ia ter que chamar seu psiquiatra aqui...
-Eu sinto muito por ter te
feito perder um dia de ensaio...
-Para com isso, Guilherme. O
Procópio entende e sabe que posso acabar faltando pra cuidar de
você. Depois, eu tou conseguindo uma graninha indo aos hospitais
animas as crianças com câncer.
-Sabe o que eu andei pensando,
amor?
-O que?
-Na nossa data de casamento...
será que vai ser logo?
-Querido, eu já te expliquei
que eu preciso pelo menos encontrar um momento oportuno, que não vá
se acavalar com minha faculdade e os ensaios na companhia de
teatro...
-Eu sei, Cláudio... mas a
gente pode passar um tempo fora que isso não vai dar problema pra
você. Por que a gente não casa daqui um mês? Já tenho até os
contatos da juíza...
Cláudio explode.
-Qual foi a parte de “ninguém
decide nada sozinho aqui” que você não entendeu? Me respeite, se
respeite, nos respeite!
-Não precisa gritar, amor...
-Como que não precisa,
Guilherme? Você só entende o que quer, do jeito que quer, distorce
as coisas e ainda vem fazer essa cara de vítima?
-Mas... amor... você precisa
entender que eu sou esquizofrênico. Desculpa.
Cláudio cai em si.
-Eu que peço desculpa,
amor... ainda tou me adaptando a tudo isso. A gente vai se casar,
confia em mim...
Cláudio abraça Guilherme.
CORTA A CENA.
CENA 6: Ao anoitecer, Laura
volta para casa, animada.
-Tá toda toda hoje, hein?
-Dá pra ver, Mateus? Tou num
quase namoro com o Haroldo. A gente vai jantar fora. Você podia vir
com a gente...
-Não tou muito disposto. Na
real passei o dia meio triste.
-Por que?
-Ando arrependido das merdas
que eu fiz, sabe?
-Pode ser mais específico?
Foram tantas as merdas que você fez... ai, desculpa falar assim,
você entendeu o que eu quis dizer...
-Eu me sinto arrependido. De
verdade.
-Do que, especificamente?
-Pelas vezes que impliquei com
o Cláudio, desde garoto. No final das contas eu acho que sempre
invejei a força e a coragem dele. Gostaria de ser amigo dele... mas
não sei se dá tempo.
-Seu bobo... enquanto há
vida, há tempo. A gente não pode consertar as cacas que fez no
passado, mas pode aprender com nossos erros. Não pra se culpar por
esses erros, mas sim pra assumir as responsabilidades que são nossos
e aprender com isso. E não cometer os mesmos erros de antes... até
porque somos humanos e tem sempre novos erros pra gente cometer!
-Você não existe, Laura...
mas vai lá se arrumar pra ver o Haroldo... não quero te atrasar pro
jantar de vocês.
Laura vai se arrumar. CORTA A
CENA.
CENA 7: Diogo chora na cozinha
de seu apartamento depois de uma discussão com Victor. Logo depois,
vai atrás de Victor no quarto.
-Amor, abre a porta! Não faz
assim comigo!
Victor abre a porta, com
raiva.
-O que você quer, Diogo? Por
que não vai pros seus amiguinhos? Vai lá! Vai dançar com eles, vai
foder com eles. Afinal de contas eu não estou dando conta, não é
mesmo? Vá saciar seus desejos animalescos, vai!
Diogo tenta se explicar e
Victor dispara em direção à porta do apartamento.
-Amor, espera!
Diogo tenta correr atrás de
Victor, mas ele entra no elevador antes. Diogo desce as escadas
correndo para tentar alcançar Victor. Ao descer as escadas,
ofegante, aguarda para ver o elevador se abrir. Duas mulheres saem do
elevador e Diogo vai até o porteiro.
-Seu Umberto, você viu se o
meu namorado passou por aqui?
-Ah, o seu Victor? Ele saiu
daqui com muita pressa. Chamou um táxi e entrou nele... não faz nem
um minuto, isso. Ele está bem? Parecia fora de si.
-Ele está em crise, seu
Umberto. Você sabe... problemas mentais. Você não faz ideia de pra
onde ele possa ter ido?
-Nem vaga ideia, seu Diogo...
sinto muito. Tentei falar com ele, mas ele passou reto, voando.
-Obrigado.
Diogo deixa o prédio e passa
a pedir informações às pessoas na rua. CORTA A CENA.
CENA 8: Após o jantar,
Haroldo resolve fazer uma proposta para Laura.
-Quem sabe você não vem
comigo hoje? Sabe como é... aos poucos a coisa aqui tá ficando
séria... acho que seria uma boa ideia você vir pra minha casa.
Afinal de contas, você tem amigos por lá...
-Eu adoraria, Haroldo, mas
prefiro ir com mais calma. Depois, eu vim sozinha pra esse
restaurante e vou ter de voltar sozinha pra casa.
-Mas eu te dou uma carona...
-Ficou doido? E de onde eu ia
tirar dinheiro pra pagar o estacionamento com pernoite aqui? Eles não
cobram barato pra deixar uma moto estacionada de um dia pro outro.
-É, mas se você não tivesse
sido cabeça dura, eu teria te buscado no meu carro...
-É melhor assim, querido...
acredite. Depois, não gosto da ideia de depender de homem nenhum,
acho bom você ir se acostumando com isso.
-Mas você topa vir dormir na
minha casa qualquer hora dessas?
-Topo. Mas só se você dormir
na minha casa antes. Afinal de contas, o Mateus você já conhece.
-Conheço sim e acho gente
boa...
-Sabe, Haroldo... eu sei que
você não gosta que eu entre nesses assuntos, mas... eu preciso
deixar clara uma coisa, até pra que nossa relação dê certo: eu
tenho meio que uma alma de investigadora, sabe? E eu sei que tem
alguém que mete muito medo em você e no Mateus. E não vou
descansar enquanto não descobrir quem é essa pessoa e ver essa
criatura atrás das grades. Vocês são pessoas maravilhosas, eu
sinto! Não merecem viver a vida à mercê de uma pessoa que tem
vocês na mão.
-Eu me preocupo com você,
Laura. Você não sabe com que tipo de pessoas você pode estar se
metendo.
-Eu não tenho medo, Haroldo.
Se esse ou esses caras são tão valentes, por que não mostram a
cara? Pra mim quem tá por trás de tudo isso não passa de um
covarde... ou uns covardes, tanto faz.
-Ninguém te segura, né?
-Ainda bem que você sabe
disso... preciso ir porque tenho certeza que o Mateus esqueceu de
chamar a pizza dele. Até mais, querido!
Laura parte em sua moto.
-Se cuida, amor! - grita
Haroldo. CORTA A CENA.
CENA 9: Laura está a caminho
de sua casa quando para em um posto de conveniências para pegar as
pizzas de Mateus. Assim que pega as pizzas, paga por elas e pendura a
sacola no guidão de sua moto, partindo novamente. Antes de chegar em
seu prédio, o sinal fecha e Laura aguarda o sinal abrir. Nesse
momento, dois motoqueiros a fecham e apontam armas pra ela.
-Você vem com a gente se
quiser viver. Sem escândalo, sem auê, sem nada. Você está cercada
e vai com a gente onde a gente mandar. - fala um dos homens.
Apavorada, Laura fica sem
reação.
-Você é muito curiosa,
garota. Tá precisando levar uma lição para parar de se intrometer
nos negócios dos outros... - fala o outro homem.
FIM DO CAPÍTULO 68.
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