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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CAPÍTULO 69

CENA 1: Laura não se permite intimidar pelos homens.
-Quem são vocês? Estão a mando de quem?
-Fale baixo, garota! Senão as pessoas vão notar aqui no sinal! - fala um dos homens.
O sinal abre e Laura arranca, com os dois outros homens em suas motos ao lado.
-A gente vai te mostrando o caminho. Nem pense em tentar escapar, senão a gente mete bala! - ameaça um dos homens.
Os três seguem até um local quase deserto.
-Anda, garota... desce da moto. - ordena um dos homens.
Laura desce da moto.
-É dinheiro que vocês querem? Tenho uns trocados do que me sobrou do jantar. Se quiserem levar a moto também, podem levar, mas por favor, não façam nada comigo! - implora Laura, tentando se manter calma.
-Você fala demais, garota. É curiosa demais. Vai atrás do que não deve. A gente não quer nada seu. Pode ficar com suas merrecas e com sua moto, não é isso que interessa a gente. A gente veio aqui a mando do chefe. - fala um dos homens.
-Chefe? Então é assim que vocês chamam ele...
-Tá vendo? Fala demais. Bem que o chefe disse que essa daí é encrenca pra nós. É o seguinte, a gente vai mandar logo o papo reto porque a gente não pretende te fazer nenhum mal. O chefe te observa e não é de hoje. Ele e o seu ex e seu atual namorado. Sabia que eles dois trabalhavam com a gente? Pois saiba disso. - fala o outro homem.
-Eu não acredito nisso! Haroldo e Mateus são bons!
-Não duvido. Esses dois bundões foram os únicos que não aguentaram o tranco. Os únicos que o chefe teve de demitir. Nunca antes isso aconteceu. Eles estão livres até a página 2, Laura... - fala o homem.
-Vocês sabem meu nome? - espanta-se Laura.
-A gente sabe isso e muito mais. E é por isso que a gente tá aqui. Você quer continuar de namorinho com o Haroldo? À vontade. Mas saiba que ele e seu ex sabem demais... são arquivos vivos. E podem ferrar nossa organização... - continua o homem.
-Facção, vocês querem dizer...
-É isso mesmo... Laura, você está mexendo com coisa séria. Gente graúda. Tem político, polícia, até gente famosa envolvida nesse esquema. Daqui a gente só sai se o chefe libera ou direto pro cemitério. E quem ele libera, feito o que fez com Haroldo e Mateus, ele manda a gente e mais outros homens ficarem em cima, de butuca, o tempo todo. Sabe quando eles vão deixar de ser vigiados? Nunca! E se algum dia qualquer um deles abrir a boca, morrem eles e todo mundo que eles gostam. São essas as ordens do chefe... e o que ele manda, tem sempre alguém dentro da facção disposto a fazer por uma boa grana. A gente te chamou pra esse canto pra te dar esse aviso: pare de ir atrás das coisas. Senão você e muito mais gente morrem. - finaliza o homem.
-Vocês não podem me impedir! - protesta Laura.
-Você não está entendendo o tamanho dessa coisa toda. Vai ter que prometer que vai parar de correr atrás de descobrir quem é o chefe. Nem a gente sabe... a gente só recebe as ordens dele. E o pagamento. Se nem a gente sabe, você acha que conseguiria? Se a gente que é da facção, descobrir, a gente morre. Imagina você. Anda, promete que vai parar de correr atrás do que não deve, promete!
-Prometo. Da minha parte vocês podem sossegar... tenho amor à vida. Mas um dia vocês vão acabar sendo pegos. Posso ir embora?
-À vontade.
Laura parte com sua moto, desorientada. CORTA A CENA.

CENA 2: Todos na mansão dos Bittencourt estão se preparando para dormir quando a campainha toca insistentemente. Por instinto, Haroldo abre a porta e se depara com Laura, desesperada.
-Laura? Que cara é essa? Você tá bem? Tá tão pálida...
-Haroldo... a gente pode conversar a sós? Tem algum lugar nessa casa que a gente possa conversar sem ninguém ouvir? Aliás... posso ficar aqui essa noite?
-Calma... você pode ficar, sim... vamos pra edícula. Tem uma cama de casal lá. Me explica o que está acontecendo...
Haroldo leva Laura à edícula e a serve um copo dágua.
-Consegue falar melhor agora?
-Sim, Haroldo. Eu entendi tudo... o que você e o Mateus me diziam pra não ir atrás de saber quem é esse cara... que chamam de “chefe”
-Peraí... como você sabe que a gente chamava ele de chefe?
-Eu fui raptada por dois dos homens dele. Eles me ameaçaram. Disseram que se eu continuar a ir atrás das coisas, morro eu e todo mundo que me importa... eu entendi tudo, Haroldo! Entendi o medo, a tensão, o pavor que você e o Mateus vivem... claro! O Mateus tinha os segredos dele, o chefe usou isso pra ter ele na mão. Você tinha o vício da jogatina que herdou do seu pai, o chefe veio com os agiotas... você se endividou e acabou na mão da facção... por isso que fugiu, por isso que desapareceu por dois anos! Você e o Mateus foram vítimas desse chefe! E seguem sendo ameaçados por eles!
Laura e Haroldo choram, abraçados.
-Você já sabe de tudo... ainda vai me querer?
-Você e o Mateus foram fracos, sim. Mas não tem culpa pela falta de caráter desse tal de chefe. Esse sujeito acaba com vidas! Eu não teria motivo pra te deixar por causa disso, Haroldo... dentro do possível você sempre foi honesto comigo. Mas uma coisa eu te garanto...
-O que, Laura?
-Agora essa porra virou questão de honra. Eu vou me juntar com o Valentim e a Mara... e vou descobrir quem é esse chefe. Custe o que custar! Eu vou livrar vocês e sabe-se lá quantas outras pessoas desse mal. Esse cara tá com os dias contados!
-Mas, amor... isso pode ser perigoso!
-Haroldo... a vida implica em riscos. Agora a gente vai deixar de fazer o que é certo por causa desses bandidos? Não mesmo! E aí... cê tá comigo ou não tá? Vai me apoiar?
-Eu te apoio em tudo o que você decidir, Laura... mas por favor, querida... tenha cautela. Por você, por nós... por todos aqueles que nós amamos!
-Quanto a isso fica sossegado que vou descobrir como agir em silêncio...
Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

CENA 3: Na manhã seguinte, Cláudio se acorda e percebe pequenas irritações na pele, mas não dá muita importância. Levanta-se e vai até a cozinha tomar seu café e levar o café, juntamente com água e medicamento, para Guilherme.
-Acorda, amor... hora do café e do remédio. - fala Cláudio.
Guilherme se senta na cama, toma o café e em seguida o medicamento seguido da água. Ao olhar para Cláudio, observa irritações em seus braços.
-Que irritações são essas na pele, Claudinho? Até ontem elas não estavam aí...
-Sabe que eu notei isso agora quando me acordei? Esquisito, né?
-Pois é. Será alguma coisa que não te caiu bem no jantar?
-Acho difícil, amor... não tenho alergia a nada, absolutamente nada.
-Será algum fungo? Porque se for a gente tem que ver de onde tá vindo isso...
-Duvido que seja. Se for, deve ter sido algo ali no teatro. Na praia quase não vou... e quando vou, dificilmente entro no mar, cê sabe disso...
-Então o que pode ser?
-Acho que pode ser alguma besteirinha relacionada ao stress.
-Mas stress? Justo agora que você tá fazendo teatro de novo e vai casar comigo? Não faz sentido.
-Guilherme, às vezes o corpo somatiza o stress anterior. Não significa que eu esteja vivendo uma situação de stress agora... mas vamos deixar isso pra lá que eu tou morrendo de fome. Vamos comer?
-Vamos!
Os dois vão à cozinha. CORTA A CENA.

CENA 4: Diogo surge desesperado no consultório de Valentim.
-Por favor, Valentim! Preciso da sua ajuda!
-Primeiro se acalme, mal abri o consultório e você chega afoito desse jeito? O que está acontecendo?
-O Victor saiu ontem sem rumo depois de surtar comigo e desapareceu!
-E por que você não avisou à polícia?
-Cê acha que alguém ia me ouvir?
-Ah... verdade... é preciso fechar vinte e quatro horas para ser feita a queixa do desaparecimento.
-Justamente. Estou preocupado com ele, mas não só por ele... e se ele realmente for o “Chefe”? Ele saindo assim, intempestivo, pode significar que outras pessoas vão estar em risco... principalmente o Cláudio!
-Você precisa se acalmar, Diogo. Ficar desesperado desse jeito não vai ajudar em nada. O que eu posso fazer é ligar para o terapeuta do Victor, fazer perguntas sobre o que o Victor costuma dizer nas consultas terapêuticas, entende? Aqui dentro desse consultório, nesse momento, eu sou psiquiatra, não investigador. E como psiquiatra eu digo que o caso do seu namorado é uma emergência médica. Guarde suas suspeitas para si mesmo! Vamos dar um jeito de encontrar o Victor.
-Eu só espero que ele não esteja fazendo nenhuma besteira... ou que não esteja tentando se matar mais uma vez...
-Esse é meu medo, Diogo. Mas vamos torcer para que ele seja encontrado são e salvo. Vou ligar para o terapeuta, um momento.
Valentim pega seu celular. CORTA A CENA.

CENA 5: Márcio está possesso com Suzanne, que debocha dele.
-Você está cada vez mais patético desde que decidiu ser o bom samaritano. Tá querendo o que, Márcio? Ganhar o próximo Nobel da paz? Ser eleito o pai do ano?
-Me poupe do seu deboche, Suzanne. Você sabe muito bem o que fez de errado.
-Errado? Hmm... interessante. Falou o baluarte da moral. Pra cima de mim, Márcio? Se não fosse por mim você tava debaixo da ponte agora!
-Sabe de uma coisa? Talvez eu fosse mais digno debaixo de uma ponte, mas pode deixar que vou arranjar um emprego e sair desse lugar.
-Depois de tudo? Ah, Márcio... não me faça rir! Agora que você já é macaco velho, vai querer bancar o pobre orgulhoso pra cima de mim? Claro! Agora que você tá se dando bem com o ruivinho problematizador, você pode tirar vantagem disso... tou sacando o teu jogo...
-Pra você tudo sempre foi um jogo, não é? Eu amo meu filho. Marcelo é um menino de ouro, sabia? Você não pode mais impedir que eu seja pai do meu próprio filho... pelo menos, desse não.
-Esse papo tá quase me deixando diabética. Posso saber o motivo dessa raiva toda?
-Você é uma inconsequente! Não devia ter tirado a gargantilha da penhora!
-Ela é minha, Márcio. Eu faço o que eu quiser! Coloco e tiro da penhora na hora que eu bem entender!
-Ela não é sua, Suzanne, você e eu sabemos disso.
-E daí? Alguém pode provar alguma coisa? Acho que não. Então guarde essa sua indignação pra se fazer de bom samaritano na frente do seu filho.
-A Riva não é tonta, Suzanne... nunca foi. Você está subestimando ela...
-Grandes bosta! Eu conheço os pontos fracos. Sei cativar a pata... ela acredita na minha amizade. É ela mesma que se subestima.
-A Riva é uma mulher maravilhosa. Algo que você jamais vai conseguir alcançar.
-Márcio... vai cagar. Me deixa em paz que você tá me enchendo o saco!
Márcio deixa o quarto. CORTA A CENA.

CENA 6: Horas mais tarde, Bruno está jantando na casa de Cláudio, na companhia dele e de Guilherme.
-Por que você não fica pra dormir aqui hoje, Bruno? - convida Guilherme.
-Ah, não quero incomodar vocês...
-Que isso, querido! Você é meu amigo e se tornou amigo do Guilherme também! A gente sabe que você tá morando num bairro distante e não dá pra chegar a tempo de dormir bem pro dia de amanhã no trabalho. Você fica e não se fala mais nisso! - fala Cláudio.
-Depois, você se mostrou uma pessoa de muito valor quando me ajudou... imaginar que eu implicava com você... - fala Guilherme.
-Vocês são bons demais pra mim. Não sei se mereço isso... mas mudando o assunto... você notou essas irritações no seu braço, Cláudio?
-Notei, sim... apareceram essa manhã. Deve ser alguma coisa com o stress... depois já sou naturalmente avermelhado! - brinca Cláudio.
-Se eu fosse você, eu consideraria fazer exames. Pode ser coisa pouca, mas também pode não ser.
-Verdade, amor... o Bruno tá certo. Não custa ver o que pode ser isso... - observa Guilherme.
-Vocês tem razão. Vou ligar pro Procópio e avisar que não vou ao ensaio amanhã. Talvez isso seja psoríase, mas não custa confirmar. O Marcelo foi diagnosticado há pouco tempo com psoríase...
-Justamente por isso. Pode acontecer com qualquer pessoa, Cláudio... - fala Bruno.
CORTA A CENA.

CENA 7: Valentim e Mara percebem que Laura permanece no teatro depois que todos os demais atores foram embora. Valentim vai até Laura.
-Tá precisando conversar com a gente, Laura?
-Sim, Valentim... com a Mara também.
-Ela foi verificar se tá tudo ok com o carro e já vem, mas pode ir dizendo se quiser.
-Valentim... esse “Chefe” pode ser mais perigoso do que nós imaginamos. Eu fui raptada e ameaçada. O aviso foi claro pra que eu deixasse de ir atrás de coisas que não deveria correr atrás. E tudo isso foi a mando desse chefe, os dois caras que me raptaram deixaram isso bem claro. Disseram também que existem ramificações da facção por todas as esferas sociais aqui no Rio e em outras cidades. Só que eu já disse ao Haroldo que agora virou questão de honra, que não vou desistir coisíssima nenhuma de descobrir quem é esse lunático megalomaníaco que deseja o poder acima de tudo e brinca com a vida de tanta gente, como fez com meu namorado e com meu ex...
-Tudo isso que você tá me dizendo tem extremo valor e importância para que sigamos com as investigações. Você quer continuar a investigar? Ótimo, mas não dê um passo sem nossa orientação. Ouça principalmente a Mara, porque ela é a rainha do disfarce. Mas me diga: você suspeita de alguém?
-De alguém em específico eu não suspeito, Valentim... mas tenho observado esses acontecimentos e incidentes recentes. Tudo indica que, seja quem esse tal de chefe for, ele ou ela é uma pessoa próxima de todos nós. Talvez acima de qualquer suspeita... você concorda comigo?
-Concordo em partes. Talvez não seja alguém acima de qualquer suspeita, pois já tenho uma extensa lista de suspeitos, mas de fato... você está certa quando diz que pode ser alguém próximo de todos.
-Pelo menos não estamos tão longe da verdade.
-Mesmo assim, Laura... não dê um passo sem nos consultar. Nos falamos ao decorrer, Mara está fechando o teatro.
CORTA A CENA.

CENA 8: Valentim e Mara estão voltando para casa quando uma mensagem é enviada para o celular de Valentim, que está dirigindo o carro.
-Amor, cê pode pegar meu celular e ler a mensagem pra mim?
-Claro, Valentim... - fala Mara, desbloqueando a tela do celular.
-Ih, amor... é mensagem do Victor.
-Como é que é? Abre a mensagem, por favor.
Mara abre a mensagem e lê.
Eu fiz besteira de novo, doutor. Decepcionei o único homem que amo e devo morrer, mas não tenho coragem de pular do quinquagésimo oitavo andar...
Mara se apavora.
-Valentim, para o carro agora! O Victor disse que vai se matar, ele disse que não tá conseguindo pular do quinquagésimo oitavo andar!
-Peraí... quinquagésimo oitavo andar... ele só pode estar no alto do Rio Sul Center! Como ele foi parar lá?
-De algum jeito ele parou lá. Amor, nós não temos tempo pra ficar de conversa furada, a gente precisa impedir que esse rapaz acabe com a própria vida se atirando de lá!
Os dois chegam rapidamente ao prédio e Valentim orienta Mara.
-Você fica com meu celular e manda uma mensagem pro Diogo avisando onde Victor está. Eu vou lá pro alto do prédio tentar conversar com Victor. Peça para Diogo vir o mais rápido que puder, antes que o pior aconteça!
-Está certo, Valentim...
Valentim entra no prédio e Mara começa a procurar nos contatos de Valentim o número de Diogo. CORTA A CENA.

CENA 9: Instantes depois, Diogo chega ao alto do prédio e vai até Valentim.
-Pelo amor de Deus, Valentim! Dá um jeito de tirar o Victor daqui! - fala Diogo, desesperado.
-Vocês falam como se eu não estivesse aqui. Eu tou ouvindo tudo! - fala Victor.
-Amor... pensa na vida maravilhosa que a gente ainda pode ter! Nós temos tantos planos!
-E de que adiantam esses planos, Diogo? Minha vida é um erro, um atraso pra você e pra qualquer um que convive comigo. Eu só dou trabalho, as pessoas sempre esperam o pior de mim e a culpa é minha! Eu não sei me controlar! Não sei ser feliz! Deixa eu ir, Diogo, porque assim você vai se livrar do peso de cuidar de mim!
Diogo se desespera com a fala de Victor. FIM DO CAPÍTULO 69.

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