CENA 1: Laura não se permite
intimidar pelos homens.
-Quem são vocês? Estão a
mando de quem?
-Fale baixo, garota! Senão as
pessoas vão notar aqui no sinal! - fala um dos homens.
O sinal abre e Laura arranca,
com os dois outros homens em suas motos ao lado.
-A gente vai te mostrando o
caminho. Nem pense em tentar escapar, senão a gente mete bala! -
ameaça um dos homens.
Os três seguem até um local
quase deserto.
-Anda, garota... desce da
moto. - ordena um dos homens.
Laura desce da moto.
-É dinheiro que vocês
querem? Tenho uns trocados do que me sobrou do jantar. Se quiserem
levar a moto também, podem levar, mas por favor, não façam nada
comigo! - implora Laura, tentando se manter calma.
-Você fala demais, garota. É
curiosa demais. Vai atrás do que não deve. A gente não quer nada
seu. Pode ficar com suas merrecas e com sua moto, não é isso que
interessa a gente. A gente veio aqui a mando do chefe. - fala um dos
homens.
-Chefe? Então é assim que
vocês chamam ele...
-Tá vendo? Fala demais. Bem
que o chefe disse que essa daí é encrenca pra nós. É o seguinte,
a gente vai mandar logo o papo reto porque a gente não pretende te
fazer nenhum mal. O chefe te observa e não é de hoje. Ele e o seu
ex e seu atual namorado. Sabia que eles dois trabalhavam com a gente?
Pois saiba disso. - fala o outro homem.
-Eu não acredito nisso!
Haroldo e Mateus são bons!
-Não duvido. Esses dois
bundões foram os únicos que não aguentaram o tranco. Os únicos
que o chefe teve de demitir. Nunca antes isso aconteceu. Eles estão
livres até a página 2, Laura... - fala o homem.
-Vocês sabem meu nome? -
espanta-se Laura.
-A gente sabe isso e muito
mais. E é por isso que a gente tá aqui. Você quer continuar de
namorinho com o Haroldo? À vontade. Mas saiba que ele e seu ex sabem
demais... são arquivos vivos. E podem ferrar nossa organização...
- continua o homem.
-Facção, vocês querem
dizer...
-É isso mesmo... Laura, você
está mexendo com coisa séria. Gente graúda. Tem político,
polícia, até gente famosa envolvida nesse esquema. Daqui a gente só
sai se o chefe libera ou direto pro cemitério. E quem ele libera,
feito o que fez com Haroldo e Mateus, ele manda a gente e mais outros
homens ficarem em cima, de butuca, o tempo todo. Sabe quando eles vão
deixar de ser vigiados? Nunca! E se algum dia qualquer um deles abrir
a boca, morrem eles e todo mundo que eles gostam. São essas as
ordens do chefe... e o que ele manda, tem sempre alguém dentro da
facção disposto a fazer por uma boa grana. A gente te chamou pra
esse canto pra te dar esse aviso: pare de ir atrás das coisas. Senão
você e muito mais gente morrem. - finaliza o homem.
-Vocês não podem me impedir!
- protesta Laura.
-Você não está entendendo o
tamanho dessa coisa toda. Vai ter que prometer que vai parar de
correr atrás de descobrir quem é o chefe. Nem a gente sabe... a
gente só recebe as ordens dele. E o pagamento. Se nem a gente sabe,
você acha que conseguiria? Se a gente que é da facção, descobrir,
a gente morre. Imagina você. Anda, promete que vai parar de correr
atrás do que não deve, promete!
-Prometo. Da minha parte vocês
podem sossegar... tenho amor à vida. Mas um dia vocês vão acabar
sendo pegos. Posso ir embora?
-À vontade.
Laura parte com sua moto,
desorientada. CORTA A CENA.
CENA 2: Todos na mansão dos
Bittencourt estão se preparando para dormir quando a campainha toca
insistentemente. Por instinto, Haroldo abre a porta e se depara com
Laura, desesperada.
-Laura? Que cara é essa? Você
tá bem? Tá tão pálida...
-Haroldo... a gente pode
conversar a sós? Tem algum lugar nessa casa que a gente possa
conversar sem ninguém ouvir? Aliás... posso ficar aqui essa noite?
-Calma... você pode ficar,
sim... vamos pra edícula. Tem uma cama de casal lá. Me explica o
que está acontecendo...
Haroldo leva Laura à edícula
e a serve um copo dágua.
-Consegue falar melhor agora?
-Sim, Haroldo. Eu entendi
tudo... o que você e o Mateus me diziam pra não ir atrás de saber
quem é esse cara... que chamam de “chefe”
-Peraí... como você sabe que
a gente chamava ele de chefe?
-Eu fui raptada por dois dos
homens dele. Eles me ameaçaram. Disseram que se eu continuar a ir
atrás das coisas, morro eu e todo mundo que me importa... eu entendi
tudo, Haroldo! Entendi o medo, a tensão, o pavor que você e o
Mateus vivem... claro! O Mateus tinha os segredos dele, o chefe usou
isso pra ter ele na mão. Você tinha o vício da jogatina que herdou
do seu pai, o chefe veio com os agiotas... você se endividou e
acabou na mão da facção... por isso que fugiu, por isso que
desapareceu por dois anos! Você e o Mateus foram vítimas desse
chefe! E seguem sendo ameaçados por eles!
Laura e Haroldo choram,
abraçados.
-Você já sabe de tudo...
ainda vai me querer?
-Você e o Mateus foram
fracos, sim. Mas não tem culpa pela falta de caráter desse tal de
chefe. Esse sujeito acaba com vidas! Eu não teria motivo pra te
deixar por causa disso, Haroldo... dentro do possível você sempre
foi honesto comigo. Mas uma coisa eu te garanto...
-O que, Laura?
-Agora essa porra virou
questão de honra. Eu vou me juntar com o Valentim e a Mara... e vou
descobrir quem é esse chefe. Custe o que custar! Eu vou livrar vocês
e sabe-se lá quantas outras pessoas desse mal. Esse cara tá com os
dias contados!
-Mas, amor... isso pode ser
perigoso!
-Haroldo... a vida implica em
riscos. Agora a gente vai deixar de fazer o que é certo por causa
desses bandidos? Não mesmo! E aí... cê tá comigo ou não tá? Vai
me apoiar?
-Eu te apoio em tudo o que
você decidir, Laura... mas por favor, querida... tenha cautela. Por
você, por nós... por todos aqueles que nós amamos!
-Quanto a isso fica sossegado
que vou descobrir como agir em silêncio...
Os dois se abraçam. CORTA A
CENA.
CENA 3: Na manhã seguinte,
Cláudio se acorda e percebe pequenas irritações na pele, mas não
dá muita importância. Levanta-se e vai até a cozinha tomar seu
café e levar o café, juntamente com água e medicamento, para
Guilherme.
-Acorda, amor... hora do café
e do remédio. - fala Cláudio.
Guilherme se senta na cama,
toma o café e em seguida o medicamento seguido da água. Ao olhar
para Cláudio, observa irritações em seus braços.
-Que irritações são essas
na pele, Claudinho? Até ontem elas não estavam aí...
-Sabe que eu notei isso agora
quando me acordei? Esquisito, né?
-Pois é. Será alguma coisa
que não te caiu bem no jantar?
-Acho difícil, amor... não
tenho alergia a nada, absolutamente nada.
-Será algum fungo? Porque se
for a gente tem que ver de onde tá vindo isso...
-Duvido que seja. Se for, deve
ter sido algo ali no teatro. Na praia quase não vou... e quando vou,
dificilmente entro no mar, cê sabe disso...
-Então o que pode ser?
-Acho que pode ser alguma
besteirinha relacionada ao stress.
-Mas stress? Justo agora que
você tá fazendo teatro de novo e vai casar comigo? Não faz
sentido.
-Guilherme, às vezes o corpo
somatiza o stress anterior. Não significa que eu esteja vivendo uma
situação de stress agora... mas vamos deixar isso pra lá que eu
tou morrendo de fome. Vamos comer?
-Vamos!
Os dois vão à cozinha. CORTA
A CENA.
CENA 4: Diogo surge
desesperado no consultório de Valentim.
-Por favor, Valentim! Preciso
da sua ajuda!
-Primeiro se acalme, mal abri
o consultório e você chega afoito desse jeito? O que está
acontecendo?
-O Victor saiu ontem sem rumo
depois de surtar comigo e desapareceu!
-E por que você não avisou à
polícia?
-Cê acha que alguém ia me
ouvir?
-Ah... verdade... é preciso
fechar vinte e quatro horas para ser feita a queixa do
desaparecimento.
-Justamente. Estou preocupado
com ele, mas não só por ele... e se ele realmente for o “Chefe”?
Ele saindo assim, intempestivo, pode significar que outras pessoas
vão estar em risco... principalmente o Cláudio!
-Você precisa se acalmar,
Diogo. Ficar desesperado desse jeito não vai ajudar em nada. O que
eu posso fazer é ligar para o terapeuta do Victor, fazer perguntas
sobre o que o Victor costuma dizer nas consultas terapêuticas,
entende? Aqui dentro desse consultório, nesse momento, eu sou
psiquiatra, não investigador. E como psiquiatra eu digo que o caso
do seu namorado é uma emergência médica. Guarde suas suspeitas
para si mesmo! Vamos dar um jeito de encontrar o Victor.
-Eu só espero que ele não
esteja fazendo nenhuma besteira... ou que não esteja tentando se
matar mais uma vez...
-Esse é meu medo, Diogo. Mas
vamos torcer para que ele seja encontrado são e salvo. Vou ligar
para o terapeuta, um momento.
Valentim pega seu celular.
CORTA A CENA.
CENA 5: Márcio está possesso
com Suzanne, que debocha dele.
-Você está cada vez mais
patético desde que decidiu ser o bom samaritano. Tá querendo o que,
Márcio? Ganhar o próximo Nobel da paz? Ser eleito o pai do ano?
-Me poupe do seu deboche,
Suzanne. Você sabe muito bem o que fez de errado.
-Errado? Hmm... interessante.
Falou o baluarte da moral. Pra cima de mim, Márcio? Se não fosse
por mim você tava debaixo da ponte agora!
-Sabe de uma coisa? Talvez eu
fosse mais digno debaixo de uma ponte, mas pode deixar que vou
arranjar um emprego e sair desse lugar.
-Depois de tudo? Ah, Márcio...
não me faça rir! Agora que você já é macaco velho, vai querer
bancar o pobre orgulhoso pra cima de mim? Claro! Agora que você tá
se dando bem com o ruivinho problematizador, você pode tirar
vantagem disso... tou sacando o teu jogo...
-Pra você tudo sempre foi um
jogo, não é? Eu amo meu filho. Marcelo é um menino de ouro, sabia?
Você não pode mais impedir que eu seja pai do meu próprio filho...
pelo menos, desse não.
-Esse papo tá quase me
deixando diabética. Posso saber o motivo dessa raiva toda?
-Você é uma inconsequente!
Não devia ter tirado a gargantilha da penhora!
-Ela é minha, Márcio. Eu
faço o que eu quiser! Coloco e tiro da penhora na hora que eu bem
entender!
-Ela não é sua, Suzanne,
você e eu sabemos disso.
-E daí? Alguém pode provar
alguma coisa? Acho que não. Então guarde essa sua indignação pra
se fazer de bom samaritano na frente do seu filho.
-A Riva não é tonta,
Suzanne... nunca foi. Você está subestimando ela...
-Grandes bosta! Eu conheço os
pontos fracos. Sei cativar a pata... ela acredita na minha amizade. É
ela mesma que se subestima.
-A Riva é uma mulher
maravilhosa. Algo que você jamais vai conseguir alcançar.
-Márcio... vai cagar. Me
deixa em paz que você tá me enchendo o saco!
Márcio deixa o quarto. CORTA
A CENA.
CENA 6: Horas mais tarde,
Bruno está jantando na casa de Cláudio, na companhia dele e de
Guilherme.
-Por que você não fica pra
dormir aqui hoje, Bruno? - convida Guilherme.
-Ah, não quero incomodar
vocês...
-Que isso, querido! Você é
meu amigo e se tornou amigo do Guilherme também! A gente sabe que
você tá morando num bairro distante e não dá pra chegar a tempo
de dormir bem pro dia de amanhã no trabalho. Você fica e não se
fala mais nisso! - fala Cláudio.
-Depois, você se mostrou uma
pessoa de muito valor quando me ajudou... imaginar que eu implicava
com você... - fala Guilherme.
-Vocês são bons demais pra
mim. Não sei se mereço isso... mas mudando o assunto... você notou
essas irritações no seu braço, Cláudio?
-Notei, sim... apareceram essa
manhã. Deve ser alguma coisa com o stress... depois já sou
naturalmente avermelhado! - brinca Cláudio.
-Se eu fosse você, eu
consideraria fazer exames. Pode ser coisa pouca, mas também pode não
ser.
-Verdade, amor... o Bruno tá
certo. Não custa ver o que pode ser isso... - observa Guilherme.
-Vocês tem razão. Vou ligar
pro Procópio e avisar que não vou ao ensaio amanhã. Talvez isso
seja psoríase, mas não custa confirmar. O Marcelo foi diagnosticado
há pouco tempo com psoríase...
-Justamente por isso. Pode
acontecer com qualquer pessoa, Cláudio... - fala Bruno.
CORTA A CENA.
CENA 7: Valentim e Mara
percebem que Laura permanece no teatro depois que todos os demais
atores foram embora. Valentim vai até Laura.
-Tá precisando conversar com
a gente, Laura?
-Sim, Valentim... com a Mara
também.
-Ela foi verificar se tá tudo
ok com o carro e já vem, mas pode ir dizendo se quiser.
-Valentim... esse “Chefe”
pode ser mais perigoso do que nós imaginamos. Eu fui raptada e
ameaçada. O aviso foi claro pra que eu deixasse de ir atrás de
coisas que não deveria correr atrás. E tudo isso foi a mando desse
chefe, os dois caras que me raptaram deixaram isso bem claro.
Disseram também que existem ramificações da facção por todas as
esferas sociais aqui no Rio e em outras cidades. Só que eu já disse
ao Haroldo que agora virou questão de honra, que não vou desistir
coisíssima nenhuma de descobrir quem é esse lunático megalomaníaco
que deseja o poder acima de tudo e brinca com a vida de tanta gente,
como fez com meu namorado e com meu ex...
-Tudo isso que você tá me
dizendo tem extremo valor e importância para que sigamos com as
investigações. Você quer continuar a investigar? Ótimo, mas não
dê um passo sem nossa orientação. Ouça principalmente a Mara,
porque ela é a rainha do disfarce. Mas me diga: você suspeita de
alguém?
-De alguém em específico eu
não suspeito, Valentim... mas tenho observado esses acontecimentos e
incidentes recentes. Tudo indica que, seja quem esse tal de chefe
for, ele ou ela é uma pessoa próxima de todos nós. Talvez acima de
qualquer suspeita... você concorda comigo?
-Concordo em partes. Talvez
não seja alguém acima de qualquer suspeita, pois já tenho uma
extensa lista de suspeitos, mas de fato... você está certa quando
diz que pode ser alguém próximo de todos.
-Pelo menos não estamos tão
longe da verdade.
-Mesmo assim, Laura... não dê
um passo sem nos consultar. Nos falamos ao decorrer, Mara está
fechando o teatro.
CORTA A CENA.
CENA 8: Valentim e Mara estão
voltando para casa quando uma mensagem é enviada para o celular de
Valentim, que está dirigindo o carro.
-Amor, cê pode pegar meu
celular e ler a mensagem pra mim?
-Claro, Valentim... - fala
Mara, desbloqueando a tela do celular.
-Ih, amor... é mensagem do
Victor.
-Como é que é? Abre a
mensagem, por favor.
Mara abre a mensagem e lê.
“Eu fiz besteira de novo,
doutor. Decepcionei o único homem que amo e devo morrer, mas não
tenho coragem de pular do quinquagésimo oitavo andar...”
Mara se apavora.
-Valentim, para o carro agora!
O Victor disse que vai se matar, ele disse que não tá conseguindo
pular do quinquagésimo oitavo andar!
-Peraí... quinquagésimo
oitavo andar... ele só pode estar no alto do Rio Sul Center! Como
ele foi parar lá?
-De algum jeito ele parou lá.
Amor, nós não temos tempo pra ficar de conversa furada, a gente
precisa impedir que esse rapaz acabe com a própria vida se atirando
de lá!
Os dois chegam rapidamente ao
prédio e Valentim orienta Mara.
-Você fica com meu celular e
manda uma mensagem pro Diogo avisando onde Victor está. Eu vou lá
pro alto do prédio tentar conversar com Victor. Peça para Diogo vir
o mais rápido que puder, antes que o pior aconteça!
-Está certo, Valentim...
Valentim entra no prédio e
Mara começa a procurar nos contatos de Valentim o número de Diogo.
CORTA A CENA.
CENA 9: Instantes depois,
Diogo chega ao alto do prédio e vai até Valentim.
-Pelo amor de Deus, Valentim!
Dá um jeito de tirar o Victor daqui! - fala Diogo, desesperado.
-Vocês falam como se eu não
estivesse aqui. Eu tou ouvindo tudo! - fala Victor.
-Amor... pensa na vida
maravilhosa que a gente ainda pode ter! Nós temos tantos planos!
-E de que adiantam esses
planos, Diogo? Minha vida é um erro, um atraso pra você e pra
qualquer um que convive comigo. Eu só dou trabalho, as pessoas
sempre esperam o pior de mim e a culpa é minha! Eu não sei me
controlar! Não sei ser feliz! Deixa eu ir, Diogo, porque assim você
vai se livrar do peso de cuidar de mim!
Diogo se desespera com a fala
de Victor. FIM DO CAPÍTULO 69.
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