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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CAPÍTULO 91

CENA 1: Marcelo entra na casa de Laura e não contém Rafael, que avança sobre Mateus mais uma vez.
-Levanta, covarde! Me encare como um homem!
Haroldo segura o irmão.
-Chega, Rafael. Você já colocou sua raiva pra fora. Agora tente se conter. - fala Haroldo.
-Eu não entendo como você tem a capacidade de se manter sob o mesmo teto que o cara que podia ter matado a mim! Eu sou seu irmão, Haroldo!
-Rafael, você precisa ouvir o que o Mateus tem a dizer. Você nunca foi de julgar as pessoas assim... - pondera Haroldo.
-Eu me arrependo de tudo o que fiz... - fala Mateus.
-Fácil pra você dizer que se arrepende agora que tá respondendo processo, não é?
-Me escute, Rafael... eu realmente me arrependi de tudo. A Laura e o seu irmão são testemunhas disso... foram meses e meses até tomar coragem de falar sobre o que eu tinha feito. Eu não posso simplesmente voltar no tempo e fingir que isso nunca aconteceu. Eu decidi me entregar porque sei que tenho de pagar por esse crime. Eu lamento que você não tenha sabido disso tudo antes, por mim. Era eu quem tinha que te contar tudo, mas sou um covarde. Não tenho o direito de te pedir perdão e entendo se você nunca mais quiser olhar na minha cara. Um sujeito covarde como eu merece pagar pelo que fez.
Rafael começa a se comover com as palavras de Mateus.
-Olha, cara... eu não me arrependo dos sopapos que eu te dei. Você tentou me sabotar outras vezes e isso quase acabou se tornando doentio. Mas de uma coisa eu não posso te chamar: de covarde. Se você fosse covarde, ia passar o resto da vida fingindo que nada disso aconteceu, negando a verdade, fugindo dela. Uma pessoa covarde jamais encararia a realidade e a verdade do modo que você decidiu encarar. Ainda resta dignidade em você... dignidade e honra. E foi isso que te levou a confessar tudo. Eu valorizo isso, de verdade.
-Eu entendo, Rafael. Realmente mereci esses socos que recebi. Foi por isso que não pensei em revidar, porque sei que não tenho esse direito. Mas não me elogie, cara... eu fui um monstro... eu podia ter acabado com a sua vida e com a vida do Marcelo. Justo o Marcelo, cara! Um garoto com quem estudei junto no ensino médio! Tá vendo como eu sou todo errado?
Marcelo começa a falar.
-Errado você só permaneceria se não tivesse caído na real. Nessa vida, todos nós cometemos erros. Alguns deles podem ser graves. Mas eu não sou juiz pra te julgar e condenar. Eu vejo que você se arrependeu de coração e quer fazer a coisa certa... - fala Marcelo.
-Eu sei que não tenho esse direito, mas o perdão de vocês me ajudaria a perdoar a mim mesmo... - fala Mateus.
-Já passou, Mateus. Eu te perdoo. Não sou sujeito de levar mágoa e rancor pro travesseiro. Sua prova de dignidade é maior do que você consegue ver agora. Você provou que tem salvação, que lá no fundo é uma boa pessoa. Não tem como eu não te perdoar. - fala Rafael.
-Eu não sei se mereço tanta generosidade da vida comigo... - fala Mateus, começando a chorar.
Todos abraçam Mateus, que chora aliviado por se livrar do peso da culpa. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas depois, Rafael e Marcelo estranham que Laura não tenha ido ao ensaio.
-Achei que você ia ao ensaio... - fala Marcelo.
-Já falei com o Procópio. Na verdade eu fiquei porque tou pensando numa maneira de contar algo a vocês... - fala Laura.
Haroldo começa a falar.
-É algo que eu e o Mateus participamos no passado... - fala Haroldo.
-Queridos... eu peço que vocês dois fiquem quietos. O melhor é que eu conte... - fala Laura.
-Fala, Laura... já tou ficando preocupado... - fala Marcelo.
-Meninos... existe uma relação entre os mais de dois anos que o Haroldo ficou desaparecido e essas coisas erradas que o Mateus andou fazendo. Ambos foram forçados a trabalhar para uma facção. O Haroldo, porque estava endividado por conta do vício que ele tinha em jogos de azar e felizmente superou. O Mateus eu não sei muita coisa, porque ele se recusa a dizer e eu entendo o porque... essa facção tem um chefe. Esse cara atende por esse “nome”, mesmo. Acontece que esse sujeito é perigoso e nenhum de nós aparentemente sabe da identidade dele.
-Perigoso como? - questiona Rafael.
-Houve uma série de incidentes. Num deles, eu fui raptada e ameaçada por homens dessa facção... para que eu me mantivesse distante de qualquer investigação. Depois disso, o Valentim sofreu uma emboscada e quase morreu asfixiado e intoxicado dentro de uma casa abandonada, trancada com o gás de cozinha vazando. Por último, esse “Chefe” enviou uma serpente em uma caixa para minha casa. Acho que ele quis nos botar medo, ou mesmo tentou nos matar... vai ver esperava que a serpente nos atacasse. Felizmente conseguimos encaminhar a serpente para ser tratada antes que a coitada morresse por conta do transporte inapropriado. Mas o mais fundamental disso é que a gente não pode baixar a guarda: qualquer um pode ser esse “Chefe” e todos nós estamos de certa forma na mira dele. Eu fui forçada a andar menos com o Valentim e com a Mara para que pudesse manter a mim e a todos a salvo.
-E tem mais, gente: eu só passei esses dois anos com falsa identidade e fugindo dentro da minha própria cidade porque esse “Chefe”, a quem nunca de fato conheci, me tinha nas mãos. Exigiu que eu trabalhasse para ele para me manter vivo... não somente a mim... mas a todos nós, toda a família. - esclarece Haroldo.
-Eu sinceramente tou perplexo... nem sei direito o que pensar... - fala Rafael.
-Eu tive de mentir à polícia, Rafael... para me manter a salvo. Eu fui o idealizador da sabotagem no seu carro, mas o serviço só foi executado sob as ordens do “Chefe”. Só que se eu disser isso à polícia, eu morro. Tem gente da facção inclusive na polícia e eu sou um arquivo vivo... - fala Mateus.
Laura segue explicando tudo a Marcelo e Rafael. CORTA A CENA.

CENA 3: Diogo se acorda e encontra Victor se cortando na sala.
-Victor! Largue essa faca agora! Olha como estão os seus braços!
-Me deixa, Diogo. Eu preciso sentir essa dor.
-Não precisa, não!
Diogo arranca a faca das mãos de Victor, que começa a chorar.
-Olha bem o estado que você deixou os seus braços! Pra que isso, meu amor? Até ontem tava tudo bem!
-Não está nada bem. Não vai ficar nada bem... nem ontem, nem hoje, nem amanhã... nem nunca!
-Tente respirar fundo, Victor... lembre-se da sua força, da sua vontade de vencer os próprios demônios interiores.
-Pra que? Pra que dominar minha sombra se ela nunca me deixa? Ela tá sempre à espreita... esperando qualquer momento meu de fraqueza. Eu não consigo ser forte! Eu não aprendi! Eu sou um fracasso! E a culpa é do Cláudio!
-O que? Depois de todo esse tempo você ainda me vem com essa? Se situe, Victor!Eu não vou admitir isso outra vez! Não é justo com ele, comigo, mas principalmente com você! Pra que você se maltrata tanto?
-Se não fosse ele, eu não teria começado com as crises...
-Deixe disso, Victor... independente de com quem eu tenha me relacionado antes de você, suas crises cedo ou tarde disparariam mais fortemente. Você não pode simplesmente apontar culpados por uma coisa dessas. Não há culpados...
-No fundo eu sei disso, amor... me perdoa! Eu te dou tanto trabalho...
-Eu sabia exatamente onde estava me metendo depois que você foi diagnosticado. Se estou com você até hoje é porque te amo e você nunca deve duvidar disso. Vem comigo, meu amor... vem tomar o medicamento e amanhã é sem discussão: você retoma a terapia exatamente do jeito que tava fazendo antes!
CORTA A CENA.

CENA 4: Rafael e Marcelo estão no carro voltando para casa.
-Sabe, Rafa... tudo isso que a Laura e os meninos contaram pra gente me deixou bem assustado...
-A mim também, amor... mas paciência, né? Olha o saldo positivo da coisa: eu saí possesso de casa, louco pra quebrar a cara do Mateus.
-E diga-se de passagem que quebrou, né viado...
-Sim, mas entendi as razões dele. Só me assusta saber que tem mais gente por trás disso... e gente perigosa.
-Será que é tão perigoso assim tudo isso?
-Marcelo... não é hora de ser otimista... infelizmente nós estamos correndo risco e hoje isso ficou claro.
-Mesmo assim, amor... me causa estranheza tudo isso. Essa facção, esse tal de “chefe”... tudo isso me parece muito nebuloso. E parece um pouco aquelas tramas policiais, sabe? A gente sempre pensa que isso não acontece na vida real...
-O que me aterroriza é saber que qualquer um pode ser o chefe... e mesmo assim não sei de quem desconfiar.
-Talvez não caiba a nós desconfiar, Rafa...
-Como que não, amor? Se a gente não desconfiar, a gente pode acabar confiando nas pessoas erradas, avalie!
-Ai, pelo amor de Deus! Vamos mudar de assunto que esse baixo astral pega, socorro!
Os dois seguem falando de outros assuntos enquanto voltam pra casa. CORTA A CENA.

CENA 5: Riva vai a um restaurante se encontrar com Márcio.
-Espero que não tenha me demorado muito, meu amigo...
-Nem vi a hora passar, Riva. Mas estou bem curioso... por que você me chamou aqui?
-Pra entender um pouco mais da mente doentia da Suzanne.
-Não sei se tem o que ser entendido além do fato que ela destruiu minha vida e protelou a minha relação de pai e filho com meus filhos por tanto tempo...
-O que me assombra nisso é saber que ela tem essa cisma comigo há mais de vinte anos. Entende como isso não faz sentido? Eu era uma pé rapada, você sabe disso. A gente namorou, eu engravidei do Marcelo... enfim.
-E eu sinto muito por não ter me oposto aos desmandos da Suzanne. Eu gostei de você... tanto que nos tornamos amigos, hoje. Mas nunca te amei como mulher...
-Eu acho que sempre soube disso... mas eu era uma adolescente, sem experiência nenhuma na vida. Acima de tudo, orgulhosa demais! Você lembra do motivo besta que me levou a romper com a Marion? - diverte-se Riva.
-Ainda bem que a gente evolui, minha amiga... ainda bem!
-Mas chega de relembrar o passado... eu vim aqui pra te dizer algo que eu acredito que você deva fazer: denunciar Suzanne à polícia.
-Eu penso nisso, mas como? Não tenho provas de nada que eu digo, a denúncia se esvaziaria desse jeito, não?
-Vou consultar meus advogados...
-Não precisa. Dona Raquel, minha segunda mãe e mãe da Suzanne, é investigadora. Talvez ela saiba me informar sobre tudo.
-Ótimo!
-Mas mesmo assim, Riva... além de não ter provas, ela tá fora do Brasil e a gente nem sabe quando ela volta. Nem se ela volta, porque eu conheço essa sujeita...
-A gente pensa nisso quando ela voltar, se ela voltar. Agora vamos fazer os pedidos? Tou varada de fome!
CORTA A CENA.

CENA 6: Adelaide e Cleiton vão à casa de Eva e Renata.
-Oi, mãezinha! Oi, pai! Que bom ver vocês aqui! - fala Renata, abraçando os pais.
-É sempre um prazer receber meus sogros na nossa casa... - fala Eva, abraçando os dois.
-Espero que a gente não esteja atrapalhando vocês... - fala Cleiton.
-De jeito nenhum, seu Cleiton. Hoje estamos praticamente o dia inteiro em casa! - fala Eva.
-Sabe o que é, queridas? Eu tomei uma decisão... um pouco por influência do seu pai, Renata... mas muito pelas próprias conclusões que andei tirando nos últimos tempos: eu me desliguei da igreja que frequentava. Já estava farta de tanto preconceito velado sob o verniz da palavra de Deus. O pastor ainda me ameaçou, disse que eu vou me arrepender e que nunca mais vou ter paz na vida por virar às costas para Deus. Mas eu não volto atrás... acredito em Deus e na espiritualidade, mas não numa religião que condena o amor e diz que Deus é amor, mas só espalha segregação e ódio. Fiquei farta, exausta de ouvir críticas dos irmãos à minha família. Espero que aquela gente nunca tenha filhos LGBT, porque nem pais deveriam ser... não merecem isso. E nenhum LGBT merece ser condenado pelo seu amor. Então é isso... eu me desliguei da igreja... me tornei agnóstica. - fala Adelaide.
-Isso é maravilhoso, mãe! Vocês não querem fazer esse relato em vídeo? Acredito que vai ser muito enriquecedor pro nosso site! - fala Renata.
Adelaide e Cleiton se olham.
-A gente topa! - falam os dois.
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas mais tarde, no consultório de Valentim, Mara o chama.
-Espero não estar atrapalhando nada, amor...
-Você nunca atrapalha. Além de excelente mulher, ainda é uma investigadora como poucas.
-É justamente a investigadora que está vindo falar com você agora. Creio que você já saiba de tudo o que o Mateus andou confessando à polícia, não?
-Evidente que sim... antes mesmo de sair na TV o Montalvani me contou.
-Você sabe que tem muito mais coisa que ele não teve coragem de falar pro delegado, não sabe?
-Evidente que sei. Coisas da facção... ele claramente está acuado e assumiu tudo sozinho.
-E você também sabe que tanto ele quanto o Haroldo e sabe-se lá quantos mais foram forçados a trabalhar pra essa facção contra suas vontades, não sabe?
-Claro que sei. Mas onde você está querendo chegar com esse reavivamente de memórias?
-Eu acho fundamental que você considere colher um depoimento informal dos dois... nada oficial, entende? Uma conversa para esclarecer algumas coisas... quem sabe assim já se chegue bem mais perto do chefe.
-Você tem razão, amor. Vou fazer isso hoje mesmo.
-Ótimo!
CORTA A CENA.

CENA 8: Cláudio chega em casa e Guilherme está preparando o jantar.
-Ah, querido... não precisava! Você sabe que tenho conseguido chegar cedo...
-Deixa eu fazer esse mimo pra você, Cláudio. Eu gosto de cozinhar também, isso não é exclusividade sua... depois, a nossa vida de casado vai ser assim... a gente dividindo as tarefas todos os dias, não?
-Desse jeito você me convence mesmo, viu? Não é todo dia que tou com vontade de esquentar minha barriga no fogão...
-É pra convencer mesmo, seu bobo. Você vai ver que minha comida não é essa gororoba toda.
-Vamos ver... mas me diz, querido: você já tomou o seu medicamento hoje?
-Putz, Cláudio... ainda bem que você me lembrou. Eu tinha esquecido completamente que hoje era dia de tomar, acredita?
-Pois então fique aí cuidando do jantar que eu busco seu medicamento no quarto.
Cláudio busca o medicamento de Guilherme e entrega a ele.
-Querido, seria pedir muito pra você pegar um copo dágua pra mim?
-Claro que não!
Cláudio enche um copo e entrega a Guilherme.
-Deixa aqui do meu lado que eu já tomo, viu?
-Nem pensar, Guilherme... você não vai escapar. Vai tomar na minha frente porque eu gosto de cuidar do meu futuro marido...
-Com um noivo desses eu não preciso de enfermeira, né não?
Guilherme pega um comprimido e toma um gole da água.
-Prontinho, amor!
-Gosto assim. Bem, já que você tá cuidando do jantar hoje, eu vou pro banho.
Cláudio sai e Guilherme se certifica de que ele não vai voltar. Assim que percebe que está sozinho, Guilherme cospe o comprimido que estava debaixo de sua língua na mão e o tritura, colocando o pó na pia. CORTA A CENA.

CENA 9: Laura, Mateus, Haroldo e Bruno estão conversando sobre os acontecimentos do dia.
-Então foi isso, Bruno... esse olho roxo do Mateus é coisa do Rafael, que chegou metendo a mão na cara dele por causa do que ele tinha confessado. Mas no final das contas, todo mundo se entendeu e ainda pudemos falar sobre essa maldita facção e esse “Chefe” que ameaça a todos nós... - fala Laura.
-Que loucura! E eu trabalhando perdendo esses bafão tudo. Sorte que tudo acabou da melhor forma, apesar do medo que vivemos... mas eu não acredito mais que o “Chefe” seja perigoso... - fala Bruno.
A campainha toca e Laura vai atender.
-Valentim? - fala Laura, sem entender nada. FIM DO CAPÍTULO 91.

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