CENA 1: Marcelo entra na casa
de Laura e não contém Rafael, que avança sobre Mateus mais uma
vez.
-Levanta, covarde! Me encare
como um homem!
Haroldo segura o irmão.
-Chega, Rafael. Você já
colocou sua raiva pra fora. Agora tente se conter. - fala Haroldo.
-Eu não entendo como você
tem a capacidade de se manter sob o mesmo teto que o cara que podia
ter matado a mim! Eu sou seu irmão, Haroldo!
-Rafael, você precisa ouvir o
que o Mateus tem a dizer. Você nunca foi de julgar as pessoas
assim... - pondera Haroldo.
-Eu me arrependo de tudo o que
fiz... - fala Mateus.
-Fácil pra você dizer que se
arrepende agora que tá respondendo processo, não é?
-Me escute, Rafael... eu
realmente me arrependi de tudo. A Laura e o seu irmão são
testemunhas disso... foram meses e meses até tomar coragem de falar
sobre o que eu tinha feito. Eu não posso simplesmente voltar no
tempo e fingir que isso nunca aconteceu. Eu decidi me entregar porque
sei que tenho de pagar por esse crime. Eu lamento que você não
tenha sabido disso tudo antes, por mim. Era eu quem tinha que te
contar tudo, mas sou um covarde. Não tenho o direito de te pedir
perdão e entendo se você nunca mais quiser olhar na minha cara. Um
sujeito covarde como eu merece pagar pelo que fez.
Rafael começa a se comover
com as palavras de Mateus.
-Olha, cara... eu não me
arrependo dos sopapos que eu te dei. Você tentou me sabotar outras
vezes e isso quase acabou se tornando doentio. Mas de uma coisa eu
não posso te chamar: de covarde. Se você fosse covarde, ia passar o
resto da vida fingindo que nada disso aconteceu, negando a verdade,
fugindo dela. Uma pessoa covarde jamais encararia a realidade e a
verdade do modo que você decidiu encarar. Ainda resta dignidade em
você... dignidade e honra. E foi isso que te levou a confessar tudo.
Eu valorizo isso, de verdade.
-Eu entendo, Rafael. Realmente
mereci esses socos que recebi. Foi por isso que não pensei em
revidar, porque sei que não tenho esse direito. Mas não me elogie,
cara... eu fui um monstro... eu podia ter acabado com a sua vida e
com a vida do Marcelo. Justo o Marcelo, cara! Um garoto com quem
estudei junto no ensino médio! Tá vendo como eu sou todo errado?
Marcelo começa a falar.
-Errado você só permaneceria
se não tivesse caído na real. Nessa vida, todos nós cometemos
erros. Alguns deles podem ser graves. Mas eu não sou juiz pra te
julgar e condenar. Eu vejo que você se arrependeu de coração e
quer fazer a coisa certa... - fala Marcelo.
-Eu sei que não tenho esse
direito, mas o perdão de vocês me ajudaria a perdoar a mim mesmo...
- fala Mateus.
-Já passou, Mateus. Eu te
perdoo. Não sou sujeito de levar mágoa e rancor pro travesseiro.
Sua prova de dignidade é maior do que você consegue ver agora. Você
provou que tem salvação, que lá no fundo é uma boa pessoa. Não
tem como eu não te perdoar. - fala Rafael.
-Eu não sei se mereço tanta
generosidade da vida comigo... - fala Mateus, começando a chorar.
Todos abraçam Mateus, que
chora aliviado por se livrar do peso da culpa. CORTA A CENA.
CENA 2: Horas depois, Rafael e
Marcelo estranham que Laura não tenha ido ao ensaio.
-Achei que você ia ao
ensaio... - fala Marcelo.
-Já falei com o Procópio. Na
verdade eu fiquei porque tou pensando numa maneira de contar algo a
vocês... - fala Laura.
Haroldo começa a falar.
-É algo que eu e o Mateus
participamos no passado... - fala Haroldo.
-Queridos... eu peço que
vocês dois fiquem quietos. O melhor é que eu conte... - fala Laura.
-Fala, Laura... já tou
ficando preocupado... - fala Marcelo.
-Meninos... existe uma relação
entre os mais de dois anos que o Haroldo ficou desaparecido e essas
coisas erradas que o Mateus andou fazendo. Ambos foram forçados a
trabalhar para uma facção. O Haroldo, porque estava endividado por
conta do vício que ele tinha em jogos de azar e felizmente superou.
O Mateus eu não sei muita coisa, porque ele se recusa a dizer e eu
entendo o porque... essa facção tem um chefe. Esse cara atende por
esse “nome”, mesmo. Acontece que esse sujeito é perigoso e
nenhum de nós aparentemente sabe da identidade dele.
-Perigoso como? - questiona
Rafael.
-Houve uma série de
incidentes. Num deles, eu fui raptada e ameaçada por homens dessa
facção... para que eu me mantivesse distante de qualquer
investigação. Depois disso, o Valentim sofreu uma emboscada e quase
morreu asfixiado e intoxicado dentro de uma casa abandonada, trancada
com o gás de cozinha vazando. Por último, esse “Chefe” enviou
uma serpente em uma caixa para minha casa. Acho que ele quis nos
botar medo, ou mesmo tentou nos matar... vai ver esperava que a
serpente nos atacasse. Felizmente conseguimos encaminhar a serpente
para ser tratada antes que a coitada morresse por conta do transporte
inapropriado. Mas o mais fundamental disso é que a gente não pode
baixar a guarda: qualquer um pode ser esse “Chefe” e todos nós
estamos de certa forma na mira dele. Eu fui forçada a andar menos
com o Valentim e com a Mara para que pudesse manter a mim e a todos a
salvo.
-E tem mais, gente: eu só
passei esses dois anos com falsa identidade e fugindo dentro da minha
própria cidade porque esse “Chefe”, a quem nunca de fato
conheci, me tinha nas mãos. Exigiu que eu trabalhasse para ele para
me manter vivo... não somente a mim... mas a todos nós, toda a
família. - esclarece Haroldo.
-Eu sinceramente tou
perplexo... nem sei direito o que pensar... - fala Rafael.
-Eu tive de mentir à polícia,
Rafael... para me manter a salvo. Eu fui o idealizador da sabotagem
no seu carro, mas o serviço só foi executado sob as ordens do
“Chefe”. Só que se eu disser isso à polícia, eu morro. Tem
gente da facção inclusive na polícia e eu sou um arquivo vivo... -
fala Mateus.
Laura segue explicando tudo a
Marcelo e Rafael. CORTA A CENA.
CENA 3: Diogo se acorda e
encontra Victor se cortando na sala.
-Victor! Largue essa faca
agora! Olha como estão os seus braços!
-Me deixa, Diogo. Eu preciso
sentir essa dor.
-Não precisa, não!
Diogo arranca a faca das mãos
de Victor, que começa a chorar.
-Olha bem o estado que você
deixou os seus braços! Pra que isso, meu amor? Até ontem tava tudo
bem!
-Não está nada bem. Não vai
ficar nada bem... nem ontem, nem hoje, nem amanhã... nem nunca!
-Tente respirar fundo,
Victor... lembre-se da sua força, da sua vontade de vencer os
próprios demônios interiores.
-Pra que? Pra que dominar
minha sombra se ela nunca me deixa? Ela tá sempre à espreita...
esperando qualquer momento meu de fraqueza. Eu não consigo ser
forte! Eu não aprendi! Eu sou um fracasso! E a culpa é do Cláudio!
-O que? Depois de todo esse
tempo você ainda me vem com essa? Se situe, Victor!Eu não vou
admitir isso outra vez! Não é justo com ele, comigo, mas
principalmente com você! Pra que você se maltrata tanto?
-Se não fosse ele, eu não
teria começado com as crises...
-Deixe disso, Victor...
independente de com quem eu tenha me relacionado antes de você, suas
crises cedo ou tarde disparariam mais fortemente. Você não pode
simplesmente apontar culpados por uma coisa dessas. Não há
culpados...
-No fundo eu sei disso,
amor... me perdoa! Eu te dou tanto trabalho...
-Eu sabia exatamente onde
estava me metendo depois que você foi diagnosticado. Se estou com
você até hoje é porque te amo e você nunca deve duvidar disso.
Vem comigo, meu amor... vem tomar o medicamento e amanhã é sem
discussão: você retoma a terapia exatamente do jeito que tava
fazendo antes!
CORTA A CENA.
CENA 4: Rafael e Marcelo estão
no carro voltando para casa.
-Sabe, Rafa... tudo isso que a
Laura e os meninos contaram pra gente me deixou bem assustado...
-A mim também, amor... mas
paciência, né? Olha o saldo positivo da coisa: eu saí possesso de
casa, louco pra quebrar a cara do Mateus.
-E diga-se de passagem que
quebrou, né viado...
-Sim, mas entendi as razões
dele. Só me assusta saber que tem mais gente por trás disso... e
gente perigosa.
-Será que é tão perigoso
assim tudo isso?
-Marcelo... não é hora de
ser otimista... infelizmente nós estamos correndo risco e hoje isso
ficou claro.
-Mesmo assim, amor... me causa
estranheza tudo isso. Essa facção, esse tal de “chefe”... tudo
isso me parece muito nebuloso. E parece um pouco aquelas tramas
policiais, sabe? A gente sempre pensa que isso não acontece na vida
real...
-O que me aterroriza é saber
que qualquer um pode ser o chefe... e mesmo assim não sei de quem
desconfiar.
-Talvez não caiba a nós
desconfiar, Rafa...
-Como que não, amor? Se a
gente não desconfiar, a gente pode acabar confiando nas pessoas
erradas, avalie!
-Ai, pelo amor de Deus! Vamos
mudar de assunto que esse baixo astral pega, socorro!
Os dois seguem falando de
outros assuntos enquanto voltam pra casa. CORTA A CENA.
CENA 5: Riva vai a um
restaurante se encontrar com Márcio.
-Espero que não tenha me
demorado muito, meu amigo...
-Nem vi a hora passar, Riva.
Mas estou bem curioso... por que você me chamou aqui?
-Pra entender um pouco mais da
mente doentia da Suzanne.
-Não sei se tem o que ser
entendido além do fato que ela destruiu minha vida e protelou a
minha relação de pai e filho com meus filhos por tanto tempo...
-O que me assombra nisso é
saber que ela tem essa cisma comigo há mais de vinte anos. Entende
como isso não faz sentido? Eu era uma pé rapada, você sabe disso.
A gente namorou, eu engravidei do Marcelo... enfim.
-E eu sinto muito por não ter
me oposto aos desmandos da Suzanne. Eu gostei de você... tanto que
nos tornamos amigos, hoje. Mas nunca te amei como mulher...
-Eu acho que sempre soube
disso... mas eu era uma adolescente, sem experiência nenhuma na
vida. Acima de tudo, orgulhosa demais! Você lembra do motivo besta
que me levou a romper com a Marion? - diverte-se Riva.
-Ainda bem que a gente evolui,
minha amiga... ainda bem!
-Mas chega de relembrar o
passado... eu vim aqui pra te dizer algo que eu acredito que você
deva fazer: denunciar Suzanne à polícia.
-Eu penso nisso, mas como? Não
tenho provas de nada que eu digo, a denúncia se esvaziaria desse
jeito, não?
-Vou consultar meus
advogados...
-Não precisa. Dona Raquel,
minha segunda mãe e mãe da Suzanne, é investigadora. Talvez ela
saiba me informar sobre tudo.
-Ótimo!
-Mas mesmo assim, Riva... além
de não ter provas, ela tá fora do Brasil e a gente nem sabe quando
ela volta. Nem se ela volta, porque eu conheço essa sujeita...
-A gente pensa nisso quando
ela voltar, se ela voltar. Agora vamos fazer os pedidos? Tou varada
de fome!
CORTA A CENA.
CENA 6: Adelaide e Cleiton vão
à casa de Eva e Renata.
-Oi, mãezinha! Oi, pai! Que
bom ver vocês aqui! - fala Renata, abraçando os pais.
-É sempre um prazer receber
meus sogros na nossa casa... - fala Eva, abraçando os dois.
-Espero que a gente não
esteja atrapalhando vocês... - fala Cleiton.
-De jeito nenhum, seu Cleiton.
Hoje estamos praticamente o dia inteiro em casa! - fala Eva.
-Sabe o que é, queridas? Eu
tomei uma decisão... um pouco por influência do seu pai, Renata...
mas muito pelas próprias conclusões que andei tirando nos últimos
tempos: eu me desliguei da igreja que frequentava. Já estava farta
de tanto preconceito velado sob o verniz da palavra de Deus. O pastor
ainda me ameaçou, disse que eu vou me arrepender e que nunca mais
vou ter paz na vida por virar às costas para Deus. Mas eu não volto
atrás... acredito em Deus e na espiritualidade, mas não numa
religião que condena o amor e diz que Deus é amor, mas só espalha
segregação e ódio. Fiquei farta, exausta de ouvir críticas dos
irmãos à minha família. Espero que aquela gente nunca tenha filhos
LGBT, porque nem pais deveriam ser... não merecem isso. E nenhum
LGBT merece ser condenado pelo seu amor. Então é isso... eu me
desliguei da igreja... me tornei agnóstica. - fala Adelaide.
-Isso é maravilhoso, mãe!
Vocês não querem fazer esse relato em vídeo? Acredito que vai ser
muito enriquecedor pro nosso site! - fala Renata.
Adelaide e Cleiton se olham.
-A gente topa! - falam os
dois.
CORTA A CENA.
CENA 7: Horas mais tarde, no
consultório de Valentim, Mara o chama.
-Espero não estar
atrapalhando nada, amor...
-Você nunca atrapalha. Além
de excelente mulher, ainda é uma investigadora como poucas.
-É justamente a investigadora
que está vindo falar com você agora. Creio que você já saiba de
tudo o que o Mateus andou confessando à polícia, não?
-Evidente que sim... antes
mesmo de sair na TV o Montalvani me contou.
-Você sabe que tem muito mais
coisa que ele não teve coragem de falar pro delegado, não sabe?
-Evidente que sei. Coisas da
facção... ele claramente está acuado e assumiu tudo sozinho.
-E você também sabe que
tanto ele quanto o Haroldo e sabe-se lá quantos mais foram forçados
a trabalhar pra essa facção contra suas vontades, não sabe?
-Claro que sei. Mas onde você
está querendo chegar com esse reavivamente de memórias?
-Eu acho fundamental que você
considere colher um depoimento informal dos dois... nada oficial,
entende? Uma conversa para esclarecer algumas coisas... quem sabe
assim já se chegue bem mais perto do chefe.
-Você tem razão, amor. Vou
fazer isso hoje mesmo.
-Ótimo!
CORTA A CENA.
CENA 8: Cláudio chega em casa
e Guilherme está preparando o jantar.
-Ah, querido... não
precisava! Você sabe que tenho conseguido chegar cedo...
-Deixa eu fazer esse mimo pra
você, Cláudio. Eu gosto de cozinhar também, isso não é
exclusividade sua... depois, a nossa vida de casado vai ser assim...
a gente dividindo as tarefas todos os dias, não?
-Desse jeito você me convence
mesmo, viu? Não é todo dia que tou com vontade de esquentar minha
barriga no fogão...
-É pra convencer mesmo, seu
bobo. Você vai ver que minha comida não é essa gororoba toda.
-Vamos ver... mas me diz,
querido: você já tomou o seu medicamento hoje?
-Putz, Cláudio... ainda bem
que você me lembrou. Eu tinha esquecido completamente que hoje era
dia de tomar, acredita?
-Pois então fique aí
cuidando do jantar que eu busco seu medicamento no quarto.
Cláudio busca o medicamento
de Guilherme e entrega a ele.
-Querido, seria pedir muito
pra você pegar um copo dágua pra mim?
-Claro que não!
Cláudio enche um copo e
entrega a Guilherme.
-Deixa aqui do meu lado que eu
já tomo, viu?
-Nem pensar, Guilherme... você
não vai escapar. Vai tomar na minha frente porque eu gosto de cuidar
do meu futuro marido...
-Com um noivo desses eu não
preciso de enfermeira, né não?
Guilherme pega um comprimido e
toma um gole da água.
-Prontinho, amor!
-Gosto assim. Bem, já que
você tá cuidando do jantar hoje, eu vou pro banho.
Cláudio sai e Guilherme se
certifica de que ele não vai voltar. Assim que percebe que está
sozinho, Guilherme cospe o comprimido que estava debaixo de sua
língua na mão e o tritura, colocando o pó na pia. CORTA A CENA.
CENA 9: Laura, Mateus, Haroldo
e Bruno estão conversando sobre os acontecimentos do dia.
-Então foi isso, Bruno...
esse olho roxo do Mateus é coisa do Rafael, que chegou metendo a mão
na cara dele por causa do que ele tinha confessado. Mas no final das
contas, todo mundo se entendeu e ainda pudemos falar sobre essa
maldita facção e esse “Chefe” que ameaça a todos nós... -
fala Laura.
-Que loucura! E eu trabalhando
perdendo esses bafão tudo. Sorte que tudo acabou da melhor forma,
apesar do medo que vivemos... mas eu não acredito mais que o “Chefe”
seja perigoso... - fala Bruno.
A campainha toca e Laura vai
atender.
-Valentim? - fala Laura, sem
entender nada. FIM DO CAPÍTULO 91.
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