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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

CAPÍTULO 93

CENA 1: Mateus cai, aparentemente desacordado, com as sacolas ao chão.
-Pode parar, Ronaldo. Esse daí já foi pro inferno, melhor dar o fora daqui antes que os homens apareçam... - fala o outro homem, que olha para os lados.
-Tá certo. Esse não vai mais dar problema pra organização e nem pro chefe... - fala o homem que esfaqueou.
Os dois saem correndo, antes que sejam vistos por mais alguém. Mateus percebe que eles estão distantes e, com muita dificuldade, consegue pegar o celular de seu bolso, ligando para Laura.
Laura está subindo novamente ao palco, quando seu celular toca.
-Desculpa, Procópio! Mil perdões! Mas é Mateus quem tá me ligando... eu vou atender e já volto aqui pro palco!
Laura corre até o camarim, para não perturbar os outros atores e atende o celular.
-Fala, Mateus...
-L...Laura! O chefe m...mandou dois homens pra me matar!
-O que? Mateus, que voz é essa? Você tá bem?
-Eu fui esfaqueado por um d...desses caras. Es...tou sangrando muito.
-Aguenta firme aí, meu amigo! Eu vou sair daqui agora. Onde você tá?
-A vin...te metros de c...casa.
-Mateus, liga pro Haroldo descer e te socorrer! Manda ele chamar uma ambulância, qualquer coisa, se eu não chegar a tempo!
Laura sai correndo e Procópio a para.
-O que está havendo, Laura?
-Não vai dar tempo de explicar. Aconteceu coisa séria, preciso ir embora.
Laura corre até sua moto e parte para sua casa. Em menos de cinco minutos, ela chega ao local onde Mateus está, sendo amparado por Haroldo.
-Você chamou a emergência, Haroldo?
-Claro que chamei! Mas eles deram quinze minutos pra chegar.
-E o Mateus? Como está?
-Eu... tou bem. Sou v...vaso ruim. Não vai ser d...dessa vez que vocês v...vão se livrar de mim... - fala Mateus.
-Procura falar pouco, Mateus! A gente ainda não sabe se essas facadas te feriram seriamente por dentro. Tenta não fazer esforço agora... a gente tá aqui contigo, vai dar tudo certo... - fala Laura.
-Ai, meu Deus. E essa ambulância que nunca chega? - preocupa-se Haroldo.
-Faz quanto tempo que você ligou pra emergência, amor? - pergunta Laura.
-Assim que o Mateus me ligou avisando que tava aqui em baixo, esfaqueado...
-Eu sinto tanto por não ter ouvido você, Haroldo... se eu não tivesse saído de casa, nada disso teria acontecido. Ia ser eu a sair pra fazer as compras... - lamenta Laura.
-Não é hora pra lamentação... eu... tou vivo ainda, ge...gente. Quem g...garante que não iam f...fazer o mesmo c...com você, Laura? - fala Mateus.
-Mas é teimoso mesmo, ô derrota! Baianinho bem arretado que tu é, rapaz! Já mandei você não falar e ficar quieto enquanto o atendimento não chega! - repreende Laura, preocupada.
A ambulância se aproxima deles.
-Até que enfim! Pensei que não chegavam mais! - fala Laura.
Os médicos descem, examinam rapidamente Mateus e o colocam dentro da ambulância. Haroldo e Laura entram junto de Mateus.
-Vai dar tudo certo, meu amigo... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 2: Mateus é levado à clínica particular e Laura estranha.
-Você não acha exagero demais, Haroldo?
-Cê tá bem doida que eu ia deixar nosso amigo ser levado pra um hospital público diante de uma situação dessas, né? Acho que você, melhor que ninguém, sabe que o “Chefe” é perigoso e as chances dele mandar os homens dele vigiarem os hospitais públicos é bem maior. Aqui, a segurança pode não ser completa, mas de todos os lugares, seria o último que o chefe mandaria o pessoal dele vasculhar. Ganhamos tempo e mantemos o Mateus a salvo, sacou?
-Não... agora eu acho que entendi melhor... desculpa se achei exagero, amor... é que essa situação toda tá me deixando nervosa, eu tive muito medo de que o Mateus acabasse morrendo e ainda tou com medo das complicações que ele pode ter por causa dessa atrocidade que fizeram com ele. Mas eu sei que foi melhor assim, Haroldo. Só não tenho como te pagar, te ressarcir tudo isso.
-Relaxa, querida. Nós estamos juntos... estou fazendo o que deve ser feito e você não tem que se preocupar em me ressarcir de algo que não estou cobrando de ninguém.
O médico chega com notícias sobre Mateus.
-Vocês que vieram acompanhando Mateus Viveiros, certo? - fala o médico.
-Sim. Como ele está, doutor? - pergunta Laura.
-Felizmente os ferimentos foram mais superficiais e ele não corre risco de morrer. Ainda assim, como ele perdeu muito sangue, vai precisar passar o dia aqui conosco, recebendo sangue do nosso banco. Mas podem respirar aliviados que ele vai sair dessa! - fala o médico.
-Podemos ver ele? - pergunta Haroldo.
-Melhor não. Ele está recebendo sangue nesse momento. Eu aviso quando já for possível que vocês venham ver ele. - finaliza o médico, retornando de onde saiu.
-Laura... você não acha melhor avisar o Valentim de tudo o que aconteceu?
-Ainda bem que você me lembrou de fazer isso, amor... eu já ia me esquecendo. Também, foi tanta coisa ao mesmo tempo que nem deu tempo de pensar... vou ligar pra ele agora, cê me dá licença...
Laura liga para Valentim.
-Fale, Laura. Procópio não entendeu nada com você saindo apressada do teatro hoje...
-Eu tive de sair correndo sem explicar nada, tava correndo contra o relógio, Valentim. Mateus sofreu um atentado e quase morreu.
-Não brinca! E ele está bem? Vai se safar dessa?
-Felizmente vai, mas estamos numa clínica particular para evitar que o pessoal da facção chegue na gente. Foi ideia do Haroldo.
-Excelente ideia. Eu vou mais tarde aí, para conversar com vocês três, com calma. Podia me passar o endereço?
-Claro, Valentim... anota aí!
Laura passa o endereço da clínica onde eles estão para Valentim.
-Ótimo. Vou só finalizar algumas coisas que estou fazendo aqui e vou para a clínica o mais rápido possível. Recomendo que vocês comuniquem aos médicos que Mateus foi vítima de um atentado por ser arquivo vivo. Dessa forma, vocês ficam minimamente protegidos até eu chegar.
-Está certo, Valentim... vou pedir pro Haroldo falar com o médico. Até mais tarde, querido.
-Mantenham a calma. O cerco contra o “Chefe” tá mais perto de se fechar do que ele imagina...
-Ainda bem. Até mais, Valentim.
Laura desliga. CORTA A CENA.

CENA 3: Horas depois, Victor volta de terapia e Diogo o recebe.
-E aí, amor? Foi tranquilo lá na terapia?
-Foi maravilhoso, Diogo... hoje teve uma espécie de dinâmica, onde a terapeuta aplicou umas técnicas pra eu tentar.
-Como elas funcionavam?
-Primeiro eu tinha que fazer um exercício de introspecção por uns quinze minutos em silêncio. Nem eu nem ela falávamos nada. Depois disso, ela me perguntava que emoções eu tinha reconhecido dentro de mim enquanto “meditava” naqueles minutos.
-Interessante, isso... e funcionou?
-Muito! Eu falei de todas as emoções e pensamentos que tive naquele tempo. Amor, raiva, ódio, desânimo, medo, coragem... tudo!
-E depois?
-Ela pediu para eu colocar pra fora o sentimento que mais me incomodava naquele momento. Que eu não tivesse medo de gritar a plenos pulmões, de chorar, de expurgar o fantasma colocando esse fantasma pra fora. Disse ela que isso faz parte da cura das próprias emoções, reconhecendo essas emoções e acolhendo cada uma delas.
-Que maravilhoso, amor! E isso parece ter te feito bem, tou te sentindo mais leve!
-E é verdade, Diogo. Eu coloquei toda a minha raiva pra fora... e o mais incrível é que todo o ódio que eu projetava pros outros, como o Cláudio por exemplo, na verdade eu entendi que era um processo de autossabotagem.
-Que lindo isso, Victor...
-É, mas mesmo assim eu preciso sempre ficar consciente de que não está nada ganho, que nada mudou da noite pro dia feito passe de mágica. Preciso lidar comigo todos os dias e tentar ficar atento pra não projetar nos terceiros as coisas que são minhas, né...
-Fico feliz que você esteja tendo essa clareza toda, amor. Confesso que quando você acusava o Cláudio de coisas que ele nunca fez, isso chegava a me assustar.
-Ainda odeio ele um pouquinho de vez em quando, mas sei que isso é problema meu e que ele é uma boa pessoa...
-Ainda bem, Victor... ainda bem. Acho que era uma boa você falar da próxima vez pro Valentim sobre essa última sessão de terapia. Acho que ele vai gostar de saber.
-Acredito que vai sim, Diogo... ele que me indicou essa terapeuta e ela é maravilhosa mesmo, uma linda na vida do ser humano.
Os dois seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 4: Laura e Haroldo aguardam a chegada de Valentim, que está a caminho.
-Pelo menos agora a gente sabe que vai estar completamente seguro. Confio muito no Valentim... - fala Laura.
-E não é pra menos. Ele, além de ser um excelente investigador, é amigo pessoal de meu pai, há muitos anos. - fala Haroldo.
-Amor... eu andei pensando numa coisa: já ficou claro que ou o Mateus ou o Bruno sabem quem é esse “Chefe”... isso se os dois não souberem a identidade dele.
-Sim, isso é fato. Quanto ao Bruno eu não tou certo, mas o Mateus já me disse que conhece pessoalmente esse cara.
-Sério? E por que você não me contou isso antes?
-Primeiro porque não achei necessário e segundo porque a gente foi ameaçado até não poder mais, amor... mas agora, diante disso, não adianta mais esconder isso de você. O Mateus que me desculpe por passar por cima do pedido de segredo dele.
-Não... que isso, querido... você tá mais que certo. Nossas vidas não podem simplesmente ficar sempre nas mãos de um cara demente feito esse “Chefe”. Mas, seja sincero comigo: você também sabe qual é a identidade dele? A gente não pode mais brincar de esconder informações diante do que aconteceu...
-Eu adoraria te dizer que conheci o “Chefe”, mas infelizmente eu não conheci, Laura. Isso é o que me deixa mais furioso por tudo: o sujeito me teve completamente nas mãos durante mais de dois anos, me forçou a trabalhar pra facção e eu nem sei quem é.
-Acredito em você, amor. Mas confesso que isso me frustra. Aliás, frustração nem é a palavra... eu fico é odiada de saber como um sujeito pode manipular a vida de tanta gente sem sequer mostrar a cara... ele pode ser qualquer pessoa que a gente já tenha conhecido e isso me deixa meio atordoada, só de pensar.
Valentim chega e Haroldo percebe.
-Amor, o Valentim chegou...
Laura e Haroldo recebem Valentim na sala de espera da clínica. CORTA A CENA.

CENA 5: Ao fim da tarde, Riva e Vicente passeiam com o filho Lúcio e, andando pelas ruas, acabam encontrando por acaso com Márcio. Vicente é o primeiro a ver Márcio.
-Ei, Márcio! Dando volta antes de anoitecer também? - fala Vicente.
Márcio se aproxima e cumprimenta Riva e Vicente.
-Tava aqui dando umas voltas pra espairecer... esquecer dos problemas... - fala Márcio.
-Eu imagino... você não precisa fazer segredo pra mim, cara... a Riva me contou sobre a Suzanne... que ela é mãe do Cláudio.
-Pois é, Vicente... pra vocês verem. Essa vida já foi muito cruel comigo. Mais cruel foi o que a Suzanne aprontou ao longo de tantos anos comigo.
-Deixa disso, Márcio... você sabe muito bem que a Suzanne nunca amou ninguém... - contemporiza Riva.
-É, mas eu sempre a amei. Apesar de todas as barbaridades que ela me levou a fazer, apesar dos golpes que ela armou, apesar de todas as mentiras que ela contou pra tanta gente, eu ainda amo essa mulher... - desabafa Márcio.
-Márcio, meu amigo... você já perdeu tempo e vida demais em função de agradar uma pessoa que nunca fez nada de bom por você, que só te colocou pra baixo... - fala Riva.
-A Riva tá certa, Márcio. Tá na hora de você se libertar disso, de uma vez por todas. - fala Vicente.
-Sabem o que é mais duro nisso tudo pra mim? Saber que vocês estão cobertos de razão... mas ainda assim, não é fácil me desprender desse amor... eu dei minha vida por ela... - desabafa Márcio.
-Você não quer vir conosco? A gente já tá indo pra casa, você tá convidado pro jantar! - convida Vicente.
-Se não for incomodar...
-Você é pai do meu primogênito, seu bobo. Não incomoda nunca! - fala Riva.
Os três partem para o carro de Vicente. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura, Haroldo e Valentim visitam Mateus no quarto da clínica.
-Valentim? Pra que você veio aqui? - estranha Mateus.
-Garantir a segurança de todos vocês, Mateus. Minha equipe já está devidamente avisada e há policiais lá fora... - esclarece Valentim.
-Que susto que você nos deu, hein amigão? - fala Haroldo.
-Nem me fala, Haroldo... quando eles me atacaram, cheguei a pensar que ia morrer. Não sei como eu consegui me fingir de morto enquanto me retorcia de dor por dentro... acho que foi isso que evitou que eles me esfaqueassem mais. - fala Mateus.
-Eles vieram pra matar mesmo, Mateus. O “Chefe” não tá mais de brincadeira... acabou o “amor”. É preciso que algo urgente seja feito... - fala Laura.
-Mais urgente do que eu receber a transfusão de sangue pra ficar bom? Isso já tá resolvido... - brinca Mateus.
-Não brinca com isso, ainda mais numa hora dessas, Mateus! Você não percebe a gravidade de tudo isso? - fala Laura.
-Evidente que sim, Laura.
-Eu sei que você sabe quem é o chefe. Haroldo me contou, mas não fique bravo com ele. - fala Laura.
-Ele tá certo... se eu não tive coragem de dizer antes, alguém que sabia isso sobre mim tinha de ter. - fala Mateus.
-Não vamos te pressionar a dizer nada além daquilo que você se sentir seguro para dizer, Mateus. Fique tranquilo. - fala Valentim.
-Não, Valentim... agora eu quero ir até o fim. Só vou precisar de um tempo pra pensar em tudo e garantir que tudo fique seguro pra nós... - fala Mateus.
-Bem... então eu acho que a sugestão do Valentim deve ser levada a sério: nós vamos forjar sua morte. Assim, a gente arma todo o ritual de velório, enterro... tudo isso pra engabelar o “Chefe”. Ele, pensando ter te eliminado, não vai esperar que você conte tudo à polícia... você topa? - fala Laura.
-Topo sem nem pensar duas vezes! - fala Mateus.
-Ótimo. Valentim, vá comunicar os médicos a respeito do nosso plano... - fala Haroldo.
CORTA A CENA.

CENA 7: Valentim explica aos médicos a situação que envolve Mateus.
-Só tenho uma dúvida, investigador: não há risco de isso tudo manchar a reputação da nossa clínica? - pergunta um dos médicos.
-De jeito nenhum. Sou um representante da lei. As providências para a proteção das testemunhas já vinham sendo tomadas antes desse atentado. Eu e a Polícia Federal assumimos, por conta e risco, essa farsa. Mateus é uma importante peça de um quebra-cabeça que envolve uma facção perigosíssima. Se o líder dessa facção acreditar que o eliminou, nós temos como pegar esse criminoso, sem que ele suspeite que o cerco está se fechando contra ele, entenderam?
-Agora sim... - fala o médico.
-De qualquer forma, é importante que vocês esperem ainda algumas horas antes de assinar o falso atestado de óbito de Mateus. Ele chegou aqui consciente, se comunicando com todos e provavelmente houve testemunhas de que ele estava ainda consciente no local do crime.
-Faz sentido, investigador... esse período de tempo dá respaldo para dizermos que houve alguma complicação, hemorragia interna...
-Exatamente, doutor.
CORTA A CENA.

CENA 8: Após jantar, Vicente e Riva conversam a sós com Márcio.
-Eu sei que pode ser muito duro pra você ter de encarar tudo de uma vez, mas acho que passou da hora de você contar pro Cláudio toda a verdade... - fala Vicente.
-Ah, Vicente... não é tão fácil quanto parece. Depois, falta tão pouco pro casamento do meu filho, sabe? Nem é justo soltar uma bomba dessas nesse momento... - fala Márcio.
-Mas Márcio... mesmo assim! Depois do casamento do Cláudio você não vai ter como escapar de contar pra ele que a mãe dele é a Suzanne... é um direito dele saber disso. - fala Riva.
Marcelo, que passa pelo corredor, escuta a conversa.
-E é um direito meu também! - fala Marcelo, surpreendendo a todos.
FIM DO CAPÍTULO 93.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

CAPÍTULO 92

CENA 1: Valentim percebe que Laura está surpresa pela sua chegada.
-Se tranquilize, Laura... eu me certifiquei que ninguém me seguiu do consultório até aqui. Posso entrar?
-Claro, Valentim... por favor!
Bruno estranha.
-O que esse cara tá fazendo aqui? - pergunta Bruno.
-Bem... acho que você é o único daqui que ainda não sabe: não sou apenas um psiquiatra amigo do Procópio. Sou um investigador da Polícia Federal. Haroldo e Mateus já sabem disso e... bem, Laura é minha colaboradora informal. - esclarece Valentim.
-Eu sou o Bruno.
-Eu sei, rapaz. Sei também que você e o Mateus foram vítimas do “Chefe” e que o Mateus, coagido pelo que o “Chefe” sabia sobre vocês, sobre o relacionamento que vocês tinham escondido desde quando você veio aqui pro Rio, acabou sendo forçado a prestar serviços à facção. Você sempre soube disso, não soube, Bruno?
-Soube... mas não podia fazer muita coisa. Esse “Chefe” tem informações sobre mim que podem destruir minha família... meus pais não sabem que sou bissexual e ele me obrigou a me manter calado, caso contrário ele poderia levar ao conhecimento dos meus pais lá em Coroados sobre minha sexualidade... isso pra não dizer coisas piores que ele poderia fazer.
-Entendi. Dessa forma, vocês dois se viram sem saída, não foi?
-Exatamente. Mateus prestava os serviços e eu me mantinha calado diante de tudo. Só que tudo mudou de figura quando eu fui obrigado por esse “Chefe” a seduzir o Cláudio. Eu acabei me apaixonando pelo Cláudio desde o primeiro momento que o vi diante de mim e acabei não fazendo o que havia sido ordenado que eu fizesse.
Valentim se espanta.
-Peraí... isso que você tá me contando é completamente novo! Onde é que o Cláudio entra nisso? - questiona Valentim.
Mateus, assustado, tenta impedir Bruno de prosseguir.
-Bruno... por favor. Você já está falando demais! - fala Mateus.
-Mateus, se tranquilize. Essa aqui é uma conversa informal e eu não fui seguido. Estamos em segurança... e eu sei que você omitiu a parte de que foram homens da facção que sabotaram o carro de Rafael.
Mateus se impressiona e nada diz.
-Sendo assim, deixe o Bruno falar, ok? Nada vai lhes acontecer. - finaliza Valentim.
-Bem... sendo assim, vou continuar: eu não sei exatamente qual é a cisma do “Chefe” com o Cláudio, mas ela não é de hoje. O cara parece nutrir uma obsessão pelo Cláudio, culpa o Cláudio por alguma merda que aconteceu na sua vida. Assim, nos últimos anos esse sujeito tem manipulado o destino do Cláudio, decidindo quem entra e quem sai da vida dele... pesquisando os podres do passado das pessoas próximas a ele para exigir que elas se afastem, mediante chantagem... - fala Bruno.
-Eu posso confirmar tudo isso, Valentim. Eu fui apaixonado pelo Cláudio quando eu fui Rodrigo... o sentimento era verdadeiro e nossa história, apesar de eu esconder tantas coisas dele, foi uma das coisas mais verdadeiras que vivi. Só que o “Chefe” concluiu em certo momento que eu não seria mais útil para os planos dele, que ele nunca revelou quais eram. Então ele me obrigou a terminar com Cláudio... sem mais nem menos. Ou eu terminava com ele, ou ele faria uma loucura... - fala Haroldo.
-Vocês precisam falar tudo isso à polícia, em depoimento. O cerco contra o chefe está finalmente se fechando! - constata Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 2: Raquel chega em sua casa depois de um longo dia de trabalho e Márcio a recebe com um forte abraço.
-Que bom te ver assim animado, meu filho...
-Ah, dona Raquel... eu resolvi começar a reagir. Se for pra me livrar da Suzanne, que a coisa seja feita pelo lado certo.
-Assim que se fala, Márcio...
-E o seu dia, foi muito corrido?
-Nossa, você não faz ideia. Dobrei jornada hoje, ainda prendi três caras acusados de pedofilia. Foi osso! E o seu dia, querido... como foi?
-Fui almoçar com a Riva... ela queria conversar comigo.
-É mesmo? E o que ela precisava conversar?
-Sobre uma coisa que ela me sugeriu... confesso que fiquei dividido. Ela quer que eu denuncie a Suzanne, assim que ela voltar pro Brasil.
-Eu sugeriria a mesma coisa, no lugar dela... sabendo de tudo.
-Você acha mesmo que isso daria em alguma coisa?
-A gente só sabe se tentar, não é?
-Mas dona Raquel, como é que eu vou denunciar uma pessoa que nunca na vida teve uma mísera passagem pela polícia? Como que me levariam a sério sendo eu o denunciante, sendo que eu mesmo já fui apenado?
-De qualquer forma, Márcio... Riva sugeriu a coisa certa.
-Mesmo que isso não dê em nada? Ah, dona Raquel... não vejo sentido em dar murro em ponta de faca, sabe?
-Querido... eu adoraria continuar essa conversa com você, mas estou realmente destruída e derrotada pelo dia longo que tive hoje. Se incomoda da gente conversar mais sobre isso amanhã de manhã, caso você já esteja acordado?
-Claro que não me incomodo, mãezinha... só vou ficar com essa dúvida martelando um pouco mais na cabeça, mas... tudo o que sempre tive vindo da Suzanne foi isso: dúvidas.
-Você ainda é tão jovem, meu querido... tem uma vida inteira e promissora pela frente. Não devia perder tanto tempo com uma pessoa que sempre te usou, como a minha filha. Você merece um amor de verdade, a liberdade, ser feliz... se prender à Suzanne só vai te privar de tudo isso.
-Não sei o que seria de mim sem a senhora. Você é que é minha mãe... não aquela que desistiu de mim porque preferiu acreditar nas fofocas que a vizinhança fez sobre mim.
-Eu também te sinto como um filho, meu querido. Agora preciso tomar uma ducha e me atirar na cama. Durma bem, meu filho...
-A senhora também...
Raquel beija a testa de Márcio. CORTA A CENA.

CENA 3: Valentim faz perguntas a Haroldo, Bruno e Mateus.
-Bem... eu não quero que vocês se sintam acuados e nem obrigados a responder nada, mas lembrem-se que essa é uma conversa informal e eu estou aqui mais como pessoa do que como investigador... no entanto, preciso juntar mais informações. Então vamos lá: Haroldo, como e quando você se viu sem saída e coagido pelo “Chefe”?
-Bem, não é segredo pra ninguém que durante muitos anos eu fui, assim como meu pai, viciado em jogatina. Comecei desde garoto e a coisa foi se agravando nos meus vinte e tantos anos. Conheci um monte de agiotas, de toda espécie. Fui me endividando cada vez mais e minha família estava indo à falência, antes do meu irmão começar a atuar como ator na TV. Um desses agiotas trabalha para a facção do “Chefe” e me mandou um recado direto dele: ou eu sumia, ou eu e toda minha família morreríamos. A ideia era que eu juntasse o suficiente de dinheiro para pagar a dívida que eu tinha. Mas essa dívida eu paguei em questão de meses. O problema passou a ser sair dessa facção porque eu sabia de muita coisa... sabia como era o modus-operandi dos homens dela. Acabei sendo obrigado a continuar mesmo depois de ter quitado minha dívida e aquilo foi como uma bola de neve na minha vida. No meio disso eu conheci o Cláudio e o “Chefe” ordenou que eu o seduzisse... acontece que eu me apaixonei de verdade pelo Cláudio e quando eu estava disposto a contar toda a verdade... o “Chefe” mandou eu terminar tudo com ele... e sumir. Foi o que eu fiz. - fala Haroldo.
-E você, Mateus... tem algo a dizer?
-Nada que já não tenha sido dito pelo Bruno, Valentim... eu até teria mais o que dizer, mas me desculpe... ainda tenho muito medo. Esse chefe é perigoso, muito perigoso.
-Valentim... acho que o Mateus não consegue falar mais sobre isso. E é compreensível... eu e você sabemos o que o “Chefe” já fez contra nós... - fala Laura.
-E eu sinto que não posso mais contribuir com nada nesse momento, Valentim... no fim das contas, o “Chefe” pode estar em outra vibe agora... pode até mesmo ter desistido de muita coisa... - fala Bruno.
-Está bem, pessoal... acho que por hoje eu já fiz vocês falarem mais do que aguentam. Não se esqueçam, contudo, que estou do lado de vocês... - fala Valentim.
CORTA A CENA.

CENA 4: Na manhã do dia seguinte, Cleiton percebe, ao se acordar, que Adelaide não está na cama e a encontra pensativa na sala, a tomar uma xícara de café.
-Caiu da cama, querida?
-Quase não dormi, Cleiton. Fiquei com aquelas ameaças ridículas do pastor ecoando na cabeça. Quem ele pensa que é pra condenar as pessoas que vivem diferente do que ele julga certo?
-Ele não é ninguém, Adelaide... mas eu fico com medo que agora que a gente gravou aquele vídeo, ele acabe fazendo algo contra nós.
-Que se meta a besta pra ver se eu não boto a boca no mundo! Foram anos naquela igreja me submetendo a todas regras absurdas. Não tenho medo de um covarde feito ele.
-E o que você pretende fazer, se as ameaças não pararem?
-Eu não pretendo fazer, meu querido... eu vou fazer. E é mais simpes do que você imagina: eu vou denunciar ele. Falar de todos os podres daquela igreja.
-Adelaide, Adelaide... você não tá mexendo com peixe pequeno.
-E daí? Se todo mundo se amedrontar, nunca ninguém nessa vida vai reagir contra quem tenta oprimir, será que você não percebe?
-Você não está nem um pouco disposta a desistir da denúncia, né?
-Nem um pouco, Cleiton. A gente já tá na chuva. Deixa a água molhar a gente...
Cleiton apoia a esposa. CORTA A CENA.

CENA 5: Raquel se acorda e encontra Márcio tomando café.
-Que bom que você acordou cedo hoje, querido... tava mesmo precisando continuar aquele papo com você.
-Aquela nossa conversa de ontem, dona Raquel?
-Sim, querido... acho que faltou eu te explicar algumas coisas, como elas realmente funcionam na polícia.
-Pois é, mãezinha... eu sei que sou leigo, mas duvido muito que alguma coisa possa ser descoberta contra a Suzanne só com a minha denúncia.
-Aí é que você se engana, meu querido... e muito!
-Como?
-Simples: a partir do momento que é feita a denúncia, é aberto um inquérito, certo?
-Certo.
-Esse inquérito pode ficar aberto por tempo indeterminado, desde que se encontrem provas mínimas de pequenos delitos. Não precisa ser nada grave, mas isso dá sustentação ao inquérito, para que ele continue, tá entendendo?
-Acho que tou começando a sacar...
-Então... uma vez aberto esse inquérito, muitas coisas passam a ser investigadas, por nossa parte, como movimentações financeiras, por exemplo... diferente das investigações que correm por fora, as investigações dentro de um inquérito aberto correm nos conformes da lei e isso, por si só, nos dá algumas vantagens, como quebra de sigilo, etc.
-Eu acho que entendi, dona Raquel... se eu fizer a denúncia, isso facilita as investigações da senhora e dos outros investigadores, é isso?
-Exatamente, querido...
Os dois seguem a conversar. CORTA A CENA.

CENA 6: Laura parte para mais um dia de ensaios na companhia de teatro enquanto Bruno se prepara para mais um dia de trabalho.
-Olha, gente... só tou indo trabalhar hoje porque nunca fui de faltar serviço, mas confesso que tou com bastante medo de andar na rua, sabendo do que pode vir a acontecer... - confessa Bruno.
-Nem me fale, Bruno... eu insisti tanto pra Laura que era só ela ligar pro Procópio dizendo que não iria ao ensaio... mesmo assim ela foi! E sem mim! - fala Haroldo.
-Ih, Haroldo... se acostuma, aquela ali é ariana ao cubo. Enfia as coisas na cabeça e homem nenhum tira! - fala Mateus.
-Bem, rapazes... eu vou me apressando, senão perco a condução pro trabalho... - fala Bruno, indo embora.
-Até mais, Bruno! - falam Mateus e Haroldo.
-Sabe, Haroldo... eu não queria demonstrar isso perto do Bruno, mas a verdade é que eu tou morrendo de medo pelo que pode acabar acontecendo com a gente. Por mais que a Laura insista que o Valentim tomou todos os cuidados antes de vir aqui ontem, eu sei que o “Chefe” quando quer esconde bem os seus olheiros...
-Vou te mentir se te disser que não estou com medo, Mateus... e também sei como esse infeliz age, não me esqueço de quando ele colocou três brutamontes vigiando a casa da minha família, só pra me meter medo. Mas sabe de uma coisa? Acho que ele tá mais preocupado em fazer terror psicológico com a gente do que em fazer qualquer coisa de má contra a gente...
-Que os deuses te ouçam, Haroldo... porque alguém aqui nessa casa vai ter que fazer as compras do dia, senão você sabe que a Laura fica uma fera! E como eu sou ainda o único morador oficial dessa casa além dela, faço eu as compras mais pro começo da tarde, tá?
-Tá certo... não sou eu que vou discutir... - brinca Haroldo. CORTA A CENA.

CENA 7: Guilherme e Cláudio estão arrumando a sala, quando Guilherme lembra de um assunto.
-Amor, você não disse que era hoje que começava a mandar os convites do nosso casamento por e-mail pra todos os seus amigos?
-Ih, Guilherme... é mesmo! Já ia me esquecendo... mas dá pra deixar pra mais tarde? Essa sala tá numa sujeira que não dá pra parar a limpeza agora...
-Não tem problema, eu fico aqui fazendo a limpeza enquanto você redige o e-mail e manda pra todos os convidados pro nosso casamento. Vai tranquilo!
-Tá certo, então... mas que marido bem prendado que você tá me saindo antes mesmo do casamento, hein? Todo prestativo, ajudando sem pedir nada em troca...
-Ah, nada em troca uma pinóia! Eu exijo os meus beijinhos!
-Como se precisasse pedir por eles, seu bobo... enfi, eu vou ligar o PC rapidão e já mando os convites pra todo mundo, tá?
-Ótimo.
Cláudio liga o computador.
-Ai que demora dos infernos pra iniciar esse PC, socorro!
-Depois sou eu que tou ansioso, né Cláudio?
-Você faz umas comparações tão estapafúrdias que chegam a ser singelas, Guilherme... mas enfim, acho que preciso comprar um PC novo, esse aqui já tá velhinho...
-Eu compro um pra você, amor.
-Pode parar por aí, burguesinho! Sou pobre mas sou limpinho! - brinca Cláudio.
-Mal dá pra acreditar, Cláudio... depois de todas as voltas que essa vida deu, de tudo o que a gente deixou de viver e tá vivendo... não dá pra acreditar que depois de tudo, falta tão pouco pro nosso casamento. Acho que esse vai ser o dia mais feliz da minha vida... - derrete-se Guilherme.
-Eu te amo cada dia mais, sabia disso? Espero que um dia seja amor suficiente para estar à altura do que você sente por mim... mas agora me dá licença que eu preciso mandar os convites...
CORTA A CENA.

CENA 8: No seu intervalo para o lanche, Laura volta para a plateia do teatro e Procópio a percebe tensa.
-O que aconteceu, Laura? Até antes da pausa você tava tão leve, se dedicando tanto a tudo...
-Ai, Procópio... eu tou com o coração apertado. Eu devia ter ouvido o Haroldo e ter ficado em casa hoje...
-Se você não está se sentindo bem pra continuar depois, me avisa, querida. Nunca foi um problema liberar vocês...
-Não, Procópio... eu já estou aqui e vou levar esse dia até o fim.
-Você parece preocupada, Laura.
-Eu não sei o que está havendo... não sei se é paranoia ou intuição... mas a sensação que me dá é de pressentimento ruim, sabe?
-Se você acha que deve voltar pra casa, não pense duas vezes.
-Querido, eu sei que você quer o meu bem, mas eu fico melhor ensaiando, acredite. Essa sensação de mau presságio vai passar. Daqui a pouco os outros atores também voltam e eu esqueço rapidinho disso...
-Tá bom, querida... qualquer coisa, me avisa.
CORTA A CENA.

CENA 9: Mateus está voltando do mercado com as compras do dia para a casa. Ao atravessar a rua e rumar em direção ao prédio, nota que dois homens suspeitos se aproximam. Mateus apressa o passo tentando chegar ao prédio rapidamente, mas os homens o abordam antes.
-É dinheiro que vocês querem? Meu celular também tá no bolso... - fala Mateus, acreditando se tratar de um assalto.
-A gente não quer nada seu, babaca. Você não devia ter confessado aquele crime. Chefe ficou muito desapontado e agora você vai ter que morrer! - fala um dos homens.
-Isso deve ser um engano... - fala Mateus, tentando se esquivar.
Os homens encurralam Mateus e ele é esfaqueado. FIM DO CAPÍTULO 92.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

CAPÍTULO 91

CENA 1: Marcelo entra na casa de Laura e não contém Rafael, que avança sobre Mateus mais uma vez.
-Levanta, covarde! Me encare como um homem!
Haroldo segura o irmão.
-Chega, Rafael. Você já colocou sua raiva pra fora. Agora tente se conter. - fala Haroldo.
-Eu não entendo como você tem a capacidade de se manter sob o mesmo teto que o cara que podia ter matado a mim! Eu sou seu irmão, Haroldo!
-Rafael, você precisa ouvir o que o Mateus tem a dizer. Você nunca foi de julgar as pessoas assim... - pondera Haroldo.
-Eu me arrependo de tudo o que fiz... - fala Mateus.
-Fácil pra você dizer que se arrepende agora que tá respondendo processo, não é?
-Me escute, Rafael... eu realmente me arrependi de tudo. A Laura e o seu irmão são testemunhas disso... foram meses e meses até tomar coragem de falar sobre o que eu tinha feito. Eu não posso simplesmente voltar no tempo e fingir que isso nunca aconteceu. Eu decidi me entregar porque sei que tenho de pagar por esse crime. Eu lamento que você não tenha sabido disso tudo antes, por mim. Era eu quem tinha que te contar tudo, mas sou um covarde. Não tenho o direito de te pedir perdão e entendo se você nunca mais quiser olhar na minha cara. Um sujeito covarde como eu merece pagar pelo que fez.
Rafael começa a se comover com as palavras de Mateus.
-Olha, cara... eu não me arrependo dos sopapos que eu te dei. Você tentou me sabotar outras vezes e isso quase acabou se tornando doentio. Mas de uma coisa eu não posso te chamar: de covarde. Se você fosse covarde, ia passar o resto da vida fingindo que nada disso aconteceu, negando a verdade, fugindo dela. Uma pessoa covarde jamais encararia a realidade e a verdade do modo que você decidiu encarar. Ainda resta dignidade em você... dignidade e honra. E foi isso que te levou a confessar tudo. Eu valorizo isso, de verdade.
-Eu entendo, Rafael. Realmente mereci esses socos que recebi. Foi por isso que não pensei em revidar, porque sei que não tenho esse direito. Mas não me elogie, cara... eu fui um monstro... eu podia ter acabado com a sua vida e com a vida do Marcelo. Justo o Marcelo, cara! Um garoto com quem estudei junto no ensino médio! Tá vendo como eu sou todo errado?
Marcelo começa a falar.
-Errado você só permaneceria se não tivesse caído na real. Nessa vida, todos nós cometemos erros. Alguns deles podem ser graves. Mas eu não sou juiz pra te julgar e condenar. Eu vejo que você se arrependeu de coração e quer fazer a coisa certa... - fala Marcelo.
-Eu sei que não tenho esse direito, mas o perdão de vocês me ajudaria a perdoar a mim mesmo... - fala Mateus.
-Já passou, Mateus. Eu te perdoo. Não sou sujeito de levar mágoa e rancor pro travesseiro. Sua prova de dignidade é maior do que você consegue ver agora. Você provou que tem salvação, que lá no fundo é uma boa pessoa. Não tem como eu não te perdoar. - fala Rafael.
-Eu não sei se mereço tanta generosidade da vida comigo... - fala Mateus, começando a chorar.
Todos abraçam Mateus, que chora aliviado por se livrar do peso da culpa. CORTA A CENA.

CENA 2: Horas depois, Rafael e Marcelo estranham que Laura não tenha ido ao ensaio.
-Achei que você ia ao ensaio... - fala Marcelo.
-Já falei com o Procópio. Na verdade eu fiquei porque tou pensando numa maneira de contar algo a vocês... - fala Laura.
Haroldo começa a falar.
-É algo que eu e o Mateus participamos no passado... - fala Haroldo.
-Queridos... eu peço que vocês dois fiquem quietos. O melhor é que eu conte... - fala Laura.
-Fala, Laura... já tou ficando preocupado... - fala Marcelo.
-Meninos... existe uma relação entre os mais de dois anos que o Haroldo ficou desaparecido e essas coisas erradas que o Mateus andou fazendo. Ambos foram forçados a trabalhar para uma facção. O Haroldo, porque estava endividado por conta do vício que ele tinha em jogos de azar e felizmente superou. O Mateus eu não sei muita coisa, porque ele se recusa a dizer e eu entendo o porque... essa facção tem um chefe. Esse cara atende por esse “nome”, mesmo. Acontece que esse sujeito é perigoso e nenhum de nós aparentemente sabe da identidade dele.
-Perigoso como? - questiona Rafael.
-Houve uma série de incidentes. Num deles, eu fui raptada e ameaçada por homens dessa facção... para que eu me mantivesse distante de qualquer investigação. Depois disso, o Valentim sofreu uma emboscada e quase morreu asfixiado e intoxicado dentro de uma casa abandonada, trancada com o gás de cozinha vazando. Por último, esse “Chefe” enviou uma serpente em uma caixa para minha casa. Acho que ele quis nos botar medo, ou mesmo tentou nos matar... vai ver esperava que a serpente nos atacasse. Felizmente conseguimos encaminhar a serpente para ser tratada antes que a coitada morresse por conta do transporte inapropriado. Mas o mais fundamental disso é que a gente não pode baixar a guarda: qualquer um pode ser esse “Chefe” e todos nós estamos de certa forma na mira dele. Eu fui forçada a andar menos com o Valentim e com a Mara para que pudesse manter a mim e a todos a salvo.
-E tem mais, gente: eu só passei esses dois anos com falsa identidade e fugindo dentro da minha própria cidade porque esse “Chefe”, a quem nunca de fato conheci, me tinha nas mãos. Exigiu que eu trabalhasse para ele para me manter vivo... não somente a mim... mas a todos nós, toda a família. - esclarece Haroldo.
-Eu sinceramente tou perplexo... nem sei direito o que pensar... - fala Rafael.
-Eu tive de mentir à polícia, Rafael... para me manter a salvo. Eu fui o idealizador da sabotagem no seu carro, mas o serviço só foi executado sob as ordens do “Chefe”. Só que se eu disser isso à polícia, eu morro. Tem gente da facção inclusive na polícia e eu sou um arquivo vivo... - fala Mateus.
Laura segue explicando tudo a Marcelo e Rafael. CORTA A CENA.

CENA 3: Diogo se acorda e encontra Victor se cortando na sala.
-Victor! Largue essa faca agora! Olha como estão os seus braços!
-Me deixa, Diogo. Eu preciso sentir essa dor.
-Não precisa, não!
Diogo arranca a faca das mãos de Victor, que começa a chorar.
-Olha bem o estado que você deixou os seus braços! Pra que isso, meu amor? Até ontem tava tudo bem!
-Não está nada bem. Não vai ficar nada bem... nem ontem, nem hoje, nem amanhã... nem nunca!
-Tente respirar fundo, Victor... lembre-se da sua força, da sua vontade de vencer os próprios demônios interiores.
-Pra que? Pra que dominar minha sombra se ela nunca me deixa? Ela tá sempre à espreita... esperando qualquer momento meu de fraqueza. Eu não consigo ser forte! Eu não aprendi! Eu sou um fracasso! E a culpa é do Cláudio!
-O que? Depois de todo esse tempo você ainda me vem com essa? Se situe, Victor!Eu não vou admitir isso outra vez! Não é justo com ele, comigo, mas principalmente com você! Pra que você se maltrata tanto?
-Se não fosse ele, eu não teria começado com as crises...
-Deixe disso, Victor... independente de com quem eu tenha me relacionado antes de você, suas crises cedo ou tarde disparariam mais fortemente. Você não pode simplesmente apontar culpados por uma coisa dessas. Não há culpados...
-No fundo eu sei disso, amor... me perdoa! Eu te dou tanto trabalho...
-Eu sabia exatamente onde estava me metendo depois que você foi diagnosticado. Se estou com você até hoje é porque te amo e você nunca deve duvidar disso. Vem comigo, meu amor... vem tomar o medicamento e amanhã é sem discussão: você retoma a terapia exatamente do jeito que tava fazendo antes!
CORTA A CENA.

CENA 4: Rafael e Marcelo estão no carro voltando para casa.
-Sabe, Rafa... tudo isso que a Laura e os meninos contaram pra gente me deixou bem assustado...
-A mim também, amor... mas paciência, né? Olha o saldo positivo da coisa: eu saí possesso de casa, louco pra quebrar a cara do Mateus.
-E diga-se de passagem que quebrou, né viado...
-Sim, mas entendi as razões dele. Só me assusta saber que tem mais gente por trás disso... e gente perigosa.
-Será que é tão perigoso assim tudo isso?
-Marcelo... não é hora de ser otimista... infelizmente nós estamos correndo risco e hoje isso ficou claro.
-Mesmo assim, amor... me causa estranheza tudo isso. Essa facção, esse tal de “chefe”... tudo isso me parece muito nebuloso. E parece um pouco aquelas tramas policiais, sabe? A gente sempre pensa que isso não acontece na vida real...
-O que me aterroriza é saber que qualquer um pode ser o chefe... e mesmo assim não sei de quem desconfiar.
-Talvez não caiba a nós desconfiar, Rafa...
-Como que não, amor? Se a gente não desconfiar, a gente pode acabar confiando nas pessoas erradas, avalie!
-Ai, pelo amor de Deus! Vamos mudar de assunto que esse baixo astral pega, socorro!
Os dois seguem falando de outros assuntos enquanto voltam pra casa. CORTA A CENA.

CENA 5: Riva vai a um restaurante se encontrar com Márcio.
-Espero que não tenha me demorado muito, meu amigo...
-Nem vi a hora passar, Riva. Mas estou bem curioso... por que você me chamou aqui?
-Pra entender um pouco mais da mente doentia da Suzanne.
-Não sei se tem o que ser entendido além do fato que ela destruiu minha vida e protelou a minha relação de pai e filho com meus filhos por tanto tempo...
-O que me assombra nisso é saber que ela tem essa cisma comigo há mais de vinte anos. Entende como isso não faz sentido? Eu era uma pé rapada, você sabe disso. A gente namorou, eu engravidei do Marcelo... enfim.
-E eu sinto muito por não ter me oposto aos desmandos da Suzanne. Eu gostei de você... tanto que nos tornamos amigos, hoje. Mas nunca te amei como mulher...
-Eu acho que sempre soube disso... mas eu era uma adolescente, sem experiência nenhuma na vida. Acima de tudo, orgulhosa demais! Você lembra do motivo besta que me levou a romper com a Marion? - diverte-se Riva.
-Ainda bem que a gente evolui, minha amiga... ainda bem!
-Mas chega de relembrar o passado... eu vim aqui pra te dizer algo que eu acredito que você deva fazer: denunciar Suzanne à polícia.
-Eu penso nisso, mas como? Não tenho provas de nada que eu digo, a denúncia se esvaziaria desse jeito, não?
-Vou consultar meus advogados...
-Não precisa. Dona Raquel, minha segunda mãe e mãe da Suzanne, é investigadora. Talvez ela saiba me informar sobre tudo.
-Ótimo!
-Mas mesmo assim, Riva... além de não ter provas, ela tá fora do Brasil e a gente nem sabe quando ela volta. Nem se ela volta, porque eu conheço essa sujeita...
-A gente pensa nisso quando ela voltar, se ela voltar. Agora vamos fazer os pedidos? Tou varada de fome!
CORTA A CENA.

CENA 6: Adelaide e Cleiton vão à casa de Eva e Renata.
-Oi, mãezinha! Oi, pai! Que bom ver vocês aqui! - fala Renata, abraçando os pais.
-É sempre um prazer receber meus sogros na nossa casa... - fala Eva, abraçando os dois.
-Espero que a gente não esteja atrapalhando vocês... - fala Cleiton.
-De jeito nenhum, seu Cleiton. Hoje estamos praticamente o dia inteiro em casa! - fala Eva.
-Sabe o que é, queridas? Eu tomei uma decisão... um pouco por influência do seu pai, Renata... mas muito pelas próprias conclusões que andei tirando nos últimos tempos: eu me desliguei da igreja que frequentava. Já estava farta de tanto preconceito velado sob o verniz da palavra de Deus. O pastor ainda me ameaçou, disse que eu vou me arrepender e que nunca mais vou ter paz na vida por virar às costas para Deus. Mas eu não volto atrás... acredito em Deus e na espiritualidade, mas não numa religião que condena o amor e diz que Deus é amor, mas só espalha segregação e ódio. Fiquei farta, exausta de ouvir críticas dos irmãos à minha família. Espero que aquela gente nunca tenha filhos LGBT, porque nem pais deveriam ser... não merecem isso. E nenhum LGBT merece ser condenado pelo seu amor. Então é isso... eu me desliguei da igreja... me tornei agnóstica. - fala Adelaide.
-Isso é maravilhoso, mãe! Vocês não querem fazer esse relato em vídeo? Acredito que vai ser muito enriquecedor pro nosso site! - fala Renata.
Adelaide e Cleiton se olham.
-A gente topa! - falam os dois.
CORTA A CENA.

CENA 7: Horas mais tarde, no consultório de Valentim, Mara o chama.
-Espero não estar atrapalhando nada, amor...
-Você nunca atrapalha. Além de excelente mulher, ainda é uma investigadora como poucas.
-É justamente a investigadora que está vindo falar com você agora. Creio que você já saiba de tudo o que o Mateus andou confessando à polícia, não?
-Evidente que sim... antes mesmo de sair na TV o Montalvani me contou.
-Você sabe que tem muito mais coisa que ele não teve coragem de falar pro delegado, não sabe?
-Evidente que sei. Coisas da facção... ele claramente está acuado e assumiu tudo sozinho.
-E você também sabe que tanto ele quanto o Haroldo e sabe-se lá quantos mais foram forçados a trabalhar pra essa facção contra suas vontades, não sabe?
-Claro que sei. Mas onde você está querendo chegar com esse reavivamente de memórias?
-Eu acho fundamental que você considere colher um depoimento informal dos dois... nada oficial, entende? Uma conversa para esclarecer algumas coisas... quem sabe assim já se chegue bem mais perto do chefe.
-Você tem razão, amor. Vou fazer isso hoje mesmo.
-Ótimo!
CORTA A CENA.

CENA 8: Cláudio chega em casa e Guilherme está preparando o jantar.
-Ah, querido... não precisava! Você sabe que tenho conseguido chegar cedo...
-Deixa eu fazer esse mimo pra você, Cláudio. Eu gosto de cozinhar também, isso não é exclusividade sua... depois, a nossa vida de casado vai ser assim... a gente dividindo as tarefas todos os dias, não?
-Desse jeito você me convence mesmo, viu? Não é todo dia que tou com vontade de esquentar minha barriga no fogão...
-É pra convencer mesmo, seu bobo. Você vai ver que minha comida não é essa gororoba toda.
-Vamos ver... mas me diz, querido: você já tomou o seu medicamento hoje?
-Putz, Cláudio... ainda bem que você me lembrou. Eu tinha esquecido completamente que hoje era dia de tomar, acredita?
-Pois então fique aí cuidando do jantar que eu busco seu medicamento no quarto.
Cláudio busca o medicamento de Guilherme e entrega a ele.
-Querido, seria pedir muito pra você pegar um copo dágua pra mim?
-Claro que não!
Cláudio enche um copo e entrega a Guilherme.
-Deixa aqui do meu lado que eu já tomo, viu?
-Nem pensar, Guilherme... você não vai escapar. Vai tomar na minha frente porque eu gosto de cuidar do meu futuro marido...
-Com um noivo desses eu não preciso de enfermeira, né não?
Guilherme pega um comprimido e toma um gole da água.
-Prontinho, amor!
-Gosto assim. Bem, já que você tá cuidando do jantar hoje, eu vou pro banho.
Cláudio sai e Guilherme se certifica de que ele não vai voltar. Assim que percebe que está sozinho, Guilherme cospe o comprimido que estava debaixo de sua língua na mão e o tritura, colocando o pó na pia. CORTA A CENA.

CENA 9: Laura, Mateus, Haroldo e Bruno estão conversando sobre os acontecimentos do dia.
-Então foi isso, Bruno... esse olho roxo do Mateus é coisa do Rafael, que chegou metendo a mão na cara dele por causa do que ele tinha confessado. Mas no final das contas, todo mundo se entendeu e ainda pudemos falar sobre essa maldita facção e esse “Chefe” que ameaça a todos nós... - fala Laura.
-Que loucura! E eu trabalhando perdendo esses bafão tudo. Sorte que tudo acabou da melhor forma, apesar do medo que vivemos... mas eu não acredito mais que o “Chefe” seja perigoso... - fala Bruno.
A campainha toca e Laura vai atender.
-Valentim? - fala Laura, sem entender nada. FIM DO CAPÍTULO 91.